FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DO ALTO SÃO FRANCISCO
CURSO DE ESTUDOS SOCIAIS
O COTIDIANO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL SOB A PERSPECTIVA DE UM INTENDENTE DA FEB
Autora: Quênia Aparecida de Souza
LUZ – MINAS GERAIS –BRASIL
2009
Quênia Aparecida de Souza
O COTIDIANO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL SOB A PERSPECTIVA DE UM INTENDENTE DA FEB
Monografia apresentada ao Departamento de Estudos Sociais da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras do Alto São Francisco – FASF -, como parte das exigências do curso de Graduação em Estudos Sociais, para a obtenção do título de Licenciatura Plena em História.
Área de Concentração: História Contemporânea
Orientador: Prof. Eliezer Carneiro de Oliveira
Luz
Minas Gerais – Brasil
2009
Souza, Quênia Aparecida de.
S719c O Cotidiano da Segunda Guerra Mundial sob a
Perspectiva de um intendente da FEB / Quênia
Aparecida de Souza. -- Luz - MG : FASF – 2009.
54 f.
ISBN
1. Segunda Guerra 2. FEB. 3. Itália
4.Cotidiano. 5. Intendência. I.Título
CDU: 930
Quênia Aparecida de Souza
O COTIDIANO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL SOB A PERSPECTIVA DE UM INTENDENTE DA FEB
Monografia apresentada ao Departamento de Estudos Sociais da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Alto São Francisco – FASF, como parte das exigências do curso de graduação em Estudos Sociais para a obtenção do título de licenciatura plena em História.
Área de concentração: História Contemporânea
Aprovada em 14 de dezembro de 2009
Professor: _____________________________________________ Instituição: FASF
Jairo Melgaço
Professor: _____________________________________________ Instituição: FASF
Marlon César da Silva CRB 6-2735
Professor: _____________________________________________
Eliezer Carneiro de Oliveira
FASF
(Orientador)
Luz
Minas Gerais - Brasil
Dedico este trabalho à minha MÃE, o ser mais
importante que existe no mundo!
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que contribuíram para este momento tão especial e marcante. A todos que sempre estiveram verdadeiramente ao meu lado. E desejo ao Leônidas que ele tenha muitos anos de vida, tenho um carinho muito especial por ele. Que o pracinha Leônidas possa ainda contar muitas Histórias da Segunda Guerra Mundial.
Por mais terras que eu percorra
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá,
Sem que leve por divisa
Esse V que simboliza
A vitória que virá,
Nossa vitória Final,
Que é a mira do meu fuzil
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil!
Canção do Expedicionário
Música de: Spartacco Rossi
Letra de: Guilherme de Almeida (1945).
RESUMO
Este trabalho trata de um estudo de caso que teve como objetivo analisar como o depoimento de um intendente se relaciona com o depoimento do Marechal Mascarenhas de Moraes, específico ao cotidiano de atuação da Força Expedicionária Brasileira – FEB. O quadro teórico-metodológico foi construído com base na abordagem qualitativa e com metodologia da História Oral através de entrevistas com um intendente da FEB. Constatou-se que, a partir dos relatos do intendente, os soldados da FEB mantinham bom relacionamento com os civis, tinham momentos de lazer quando não estavam no front, boa alimentação apesar de terem sofrido as conseqüências do frio intenso na época do inverno. O processo de socorro e tratamento aos feridos em batalha também era muito eficaz, inclusive com os capturados de exércitos inimigos. Estes relatos foram também confirmados quando se realiza uma análise das memórias do Marechal Mascarenhas de Moraes, onde este relata também como foi estruturada a FEB, como foram os treinamentos realizados, a partida para a Itália, e descreve várias batalhas travadas pela FEB nos campos de batalha italianos. Conclui-se com base nos dados que apenas o depoimento do intendente em si, não contribui para entender o cotidiano da guerra, porém quando este depoimento é comparado a outros relatos, no caso, o de Mascarenhas de Moraes, foi possível compreender com mais exatidão sobre fatos acontecidos durante a guerra e que marcaram o cotidiano das tropas brasileiras na Itália. As reflexões aqui realizadas ajudam a compreender a natureza do conflito, contribuindo com mais um relato sobre o cotidiano da Segunda Guerra Mundial.
Palavras-chave: Segunda Guerra Mundial, FEB, Itália, Cotidiano, Intendência.
ABSTRACT
This paper deals with a case study aimed to analyze how the testimony of a steward is related to the testimony of Marshal Mascarenhas de Moraes, specific to their daily performance of the Brazilian Expeditionary Force - FEB. The theoretical and methodological framework was built based on the qualitative approach and methodology of oral history through interviews with a manager of the FEB. It was found that, from the reports of the superintendent, the soldiers of the BEF maintained good relations with civilians, they had leisure time when they were in front, good food despite having suffered the consequences of the intense cold in the wintertime. The process of rescue and treat the wounded in battle was also very effective, including those captured enemy armies. These reports were also confirmed when performing an analysis of the memoirs of Marshal Mascarenhas de Moraes, which also reports this as the FEB was structured, as were the training sessions, the departure for Italy, and describes several battles fields Italian battle. It is based on data that only the mayor's testimony in itself does not contribute to understanding the daily life of war, but when this statement is compared to other reports, in this case, Mascarenhas de Moraes, we could understand more accurately about events that occurred during the war and that marked the daily life of Brazilian troops in Italy. These reflections help us understand the nature of the conflict, contributing over a report about the daily life of World War II.
Key-words: World War Second, FEB, Italy, Daily, Intendancy
LISTA DE ABREVIATURAS
DIE Divisão de Infantaria Expedicionária
FAB Força Aérea Brasileira
FASF Faculdade de Filosofia Ciências e Letras do Alto São Francisco
FEB Força Expedicionária Brasileira
QG Quartel General
p. Página
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 10
1.1 Problema 11
1.2 Justificativa 11
1.3 Objetivo 12
2 REFERENCIAL TEÓRICO 13
2.1 Algumas considerações sobre História do cotidiano 13
2.2 A Força Expedicionária Brasileira – FEB 14
2.3 A FEB no campo de batalha 17
3 METODOLOGIA 21
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 23
4.1 O ingresso no Exército e a partida para a guerra 23
4.2 O cotidiano da Guerra 30
4.3 O intendente após a guerra 48
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 51
REFERÊNCIAS 53
INTRODUÇÃO
A Segunda Guerra Mundial foi um marco significativo para a sociedade contemporânea. Nesse aspecto, vários estudos já foram realizados a fim de analisar o conflito em suas diversas dimensões.
Um aspecto que chama a atenção diz respeito ao cotidiano dos soldados que participaram da Segunda Guerra Mundial, pois a historiografia, na perspectiva da história tradicional, não pode ser concentrada somente “nos grandes feitos dos grandes homens, estadistas, generais ou ocasionalmente eclesiásticos” (BURKE, 1992, p. 12), mas ser construída também, “nos quintais entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas” (GULLAR, 1999).
Com base na afirmação acima, o fato histórico compreende também acontecimentos situados no cotidiano das pessoas, as quais, de certa forma, são relegadas em segundo plano no contexto da produção do conhecimento histórico, e, portanto, estudos que venham abordar o cotidiano das pessoas comuns tornam-se uma necessidade, conforme destacado por Gullar (1999).
Para Del Priore (1997, p. 265), o “estudo das formas da vida cotidiana faz parte da ciência histórica desde que esta teve como principal preocupação retraçar o itinerário e o progresso da civilização.
Segundo a autora, o cotidiano “só produz a si mesmo, e que o mesmo “reproduz uma ordem”. Todavia, os usos do cotidiano são vários, “e que tais usos são contraditórios mesmo para um único indivíduo” (DEL PRIORE, 1997, p. 267).
No entanto, “ a história do cotidiano é uma visão autêntica da história global, na medida em que atribui a cada ator e a cada elemento da realidade histórica um papel, no funcionamento dos sistemas, que permitem decifrar a realidade” (LE GOFF, 2003).
Seguindo as observações feitas a partir de Burke (1992), Del Priore (1997), Gullar (1999) e Le Goff (2003), e ancorado na observação de Henriques Neto (2008) em que o mesmo destaca que há poucos estudos sobre o cotidiano dos soldados da FEB, sendo, portanto, necessária a realização de mais estudos sobre o dia a dia dos soldados brasileiros participantes da Segunda Guerra Mundial, para que a memória dos mesmos não venha a se perder no tempo, foi realizada esta monografia referente ao cotidiano dos soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, através do depoimento do intendente Leônidas Macedo Filho, com o propósito de comparar seu ponto de vista com o ponto de vista do Marechal Mascarenhas de Moraes.
O relato do intendente, registrado através de entrevista oral, possibilita também, compreender até que ponto características específicas a um evento histórico possam se relacionar através de pontos de vista diferentes, isto é, do ponto de vista individual e também do ponto de vista coletivo.
Portanto, acredita-se que esta monografia possa contribuir para a área de História no sentido de descrever características do cotidiano dos soldados da FEB, com base na relação individual, ou seja um estudo de caso, e coletiva das pessoas que vivenciaram o fato histórico aqui abordado.
1.1 Problema
Os conhecimentos antes adquiridos levam a um despertar para novas investigações, não só aquelas contidas na História dos vencedores, mas também em homens comuns. Tendo em vista que um fato histórico, para ser compreendido, deve se construir a partir de diversos relatos/depoimentos daqueles que estiveram nele envolvidos, o presente estudo tem como questão de investigação a seguinte pergunta: até que ponto o depoimento do intendente pode contribuir para elucidar sobre as características do cotidiano de atuação da Força Expedicionária Brasileira (FEB)?
1.2 Justificativa
A participação da FEB na Segunda Guerra Mundial foi um fato importante na História do Brasil, pois envolveu um contingente de 25 mil soldados, entre oficiais e praças.
O conhecimento de depoimentos dos soldados da FEB no âmbito da historiografia torna-se relevante, pois pode permitir a preservação da memória social dos soldados inerente à memória individual dos soldados ainda em vida.
A importância do trabalho em questão se limita em tecer uma abordagem do cotidiano da Segunda Guerra baseado a partir das memórias relatadas por um intendente a FEB, hoje residente em Campos Altos. Registrar tais lembranças, mediante a História Oral, torna-se importante, pois possibilita conferir o dia-a-dia da guerra ou que a participação de um indivíduo se entrelace com a de outros também participantes do mesmo evento histórico.
Esta monografia pode contribuir a área de História, uma vez que, o fato histórico está vinculado a área do cotidiano das pessoas. Assim, a realização de um estudo sobre o cotidiano dos soldados que estiveram diretamente envolvidos no conflito contribui para que a memória não se perca no tempo, assim como contribui também para que diferente pontos de vista sirvam para descrever características cotidianas na relação individual e coletivo dos soldados da FEB.
1.3 Objetivo
Analisar como o depoimento de um Intendente se relaciona com o depoimento do Marechal Mascarenhas de Moraes dentro da natureza de um mesmo espaço, específico ao cotidiano de atuação da Força Expedicionária Brasileira.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Na análise teórica do estudo em questão fez-se necessário o levantamento sobre a História do cotidiano, tendo em vista que o estudo em questão trabalha diretamente com o levantamento de assuntos cotidianos e, a partir da análise de um sistema histórico que permita compreender seu funcionamento, buscam-se tecer novas considerações a respeito do tema colocado como centro do debate.
Assim, na primeira parte desse trabalho foram dadas considerações sobre a História do cotidiano. Em seguida, o estudo caracteriza o cotidiano dos soldados da FEB na Segunda Guerra Mundial.
2.1 Algumas considerações sobre História do cotidiano
Atualmente, vive-se em um mundo que, para ser mais facilmente compreendido e interpretado, há a necessidade de estudo de aspectos que estão próximos da realidade. De acordo com Del Priore (1997, p. 259), “juntamos, dia após dia, as pequenas coisas de nosso cotidiano e imediatamente após, esquecemos o trabalho de construção empreendido, nada desejando modificar, nem colocar em discussão, como se tudo fosse simples e evidente”. O que o autor deseja alertar quando faz tal afirmação diz respeito à necessidade de estudo sobre o cotidiano como forma de construção de um conhecimento histórico mais amplo.
Na concepção de Del Priore (1997), ao se remeter ao conceito de “história” logo atribui-se a um processo específico de afirmação através do qual um fenômeno ou uma prática se inscrevem no tempo ou produzem um natureza própria. Por sua vez, quando se fala em “cotidiano” é necessário desvendar o que recobre esse conceito, seja o estudo das sociabilidades, a análise de situações e histórias de vida o que necessariamente irá abrir uma enorme série de campos espaço-temporais que geram complexos instrumentos de análise.
Para superação de tais obstáculos, Le Goff (1988) afirma que ao se tratar de discutir o espaço do público em oposição ao privado, não se recomenda fazê-lo de forma separada, mas de tentar perceber qual a natureza do espaço que diferentes grupos sociais ocupam. Trata-se, portanto, de interpertar os usos e representações que fazem os diversos grupos sociais deste espaço.
De acordo com o entendimento de Le Goff (1988), o cotidiano somente possui valor histórico e científico no interior de uma análise de sistemas históricos que contribuam para explicar seu funcionamento. O estudo do cotidiano é essencialmente uma maneira de abordar a História Econômica e Social. Vale ressaltar que, para os autores ligados a esse grupo, a História da Vida Cotidiana não é definida somente pelo estudo do habitual por oposição ao excepcional (ou factual), nem é, tampouco, concebida como descrição do cenário de uma época: sua concepção é mais ampla.
Nesse sentido, Del Priore (1997), observa-se que, desde 1890, com a edição na França da coleção Historie de La Vie Quotidienne, registra o abandono gradativo de uma abordagem que concebia as formas da vida cotidiana como enfeite da “grande História”, daquela que se faz no afrontamento com as instituições e os poderes dirigentes.
De acordo com as concepções de Del Priore (1997), a História do Cotidiano deve ser feita através do estudo do habitual, mas de um habitual imbricado na análise dos equilíbrios econômicos e sociais que subjazem às decisões e aos conflitos políticos.
Para abordar sobre a importância de estudos nesse sentido, Del Priore (1997) cita Fernand Braudel (1967) em que o autor aborda o tema “Vida material e Capitalismo”. Nesta temática, o autor não se contentou em enumerar os objetos que povoaram o universo diário, mas demonstrou, como os grandes equilíbrios econômicos povoaram o universo diário e os circuitos de troca fabricavam e transformavam a trama da vida biológica e social; ele desvendou as formas através das quais os comportamentos se integravam ao gosto, aos gestos repetidos, ou como a classe social transformava a inovação em hábito (BRAUDEL, 1967).
Ao propor portanto, uma discussão sobre as concepções de História do cotidiano, visa-se esclarecer, tomando como linha da raciocínio as discussões de Le Goff (1988) e Del Priore (1997), que os problemas colocados no cotidiano não devem ser banalizados e colocados como menores, pois a História não é produto exclusivo dos grandes acontecimentos; ao contrário, ela se constrói no dia a dia. Portanto, diferentemente do que se pensa, cotidiano e história não possuem noções contraditórias, sendo muito importante que se analise a maneira como ambos estão relacionados. Tais estudos visam recuperar, sobretudo, os laços entre o social e o individual, o social e o histórico.
2.2 A Força Expedicionária Brasileira – FEB
Os movimentos antifascistas no Brasil cresceram a partir da declaração de guerra à Alemanha. Conforme observação de Henriques Neto (2008, p. 3), “em 1942 já havia forte movimento antifascista, manifestado nas grandes passeatas, destacando-se principalmente a de 4 de julho de 1942, liderada pela União Nacional dos Estudantes [...]”.
Ainda de acordo com o autor, no cenário político, os EUA e o Brasil acertavam acordos e medidas para a criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB), com a qual fariam frente nas linhas de combate, deixando o Brasil, de ser um mero fornecedor de matérias primas.
A formação da FEB aconteceu quase um século após as últimas guerras nas quais se envolvia o Brasil: a Campanha da Cisplatina e a Guerra do Paraguai. Nesse período no qual o Brasil viveu tempos de paz, houve fortalecimento das convicções democráticas e busca pela negociação direta, sendo a diplomacia necessária para a aceitação do arbitramento como solução pacífica para as possíveis divergências. Porém, de acordo com Moraes (1969), o ataque nazi-facista à navegação costeira do Brasil além das ações cometidas por estes regimes contra determinados grupos étnicos como os judeus, deram justificativas para a entrada do Brasil na guerra.
A FEB realizou a campanha em terras italianas no período de 1944 a 1945. Entre os principais registros sobre o cotidiano das tropas brasileiras em campos de batalha italianos, destacam-se os registros orais, editados em livros, a descrever o sobre o dia a dia dos combatentes.
A FEB era constituída pela Primeira Divisão de Infantaria Expedicionária – DIE e de órgãos não divisórios. Teve sua estrutura fixada em 9 de agosto de 1943, pela Portaria Ministerial nº 47/44, publicada em boletim reservado de 13 de agosto do mesmo ano (MORAES, 1969). Porém, antes de realizar a organização prática da FEB, o Brasil ainda iria realizar um reconhecimento sobre a situação do conflito enviando representantes à Europa.
Após realizar visitas à Itália e também ao Norte da África, o Marechal Mascarenhas de Moraes, reconhece a amplitude do conflito e a necessidade de que o país envie o mais rápido possível as tropas para o campo de batalha.
De volta ao Brasil, o Marechal Mascarenhas de Moraes organiza a instauração da Primeira Divisão de Infantaria Expedicionária em 7 de outubro de 1943. a 1ª DIE foi instalada no Quartel-general no Rio de Janeiro em 11 de outubro. A partir de então iniciou-se o processo de recrutamento e formação de pessoal das mais variadas especialidades. No período de outubro de 1943 a junho de 1944 ocorre o processo de treinamento da Infantaria Expedicionária Brasileira. Em 2 de julho de 1944, mais de cinco mil soldados, entre praças, oficiais e assemelhados para serem transportados ao teatro de operações do Mediterrâneo.
A operação de embarque foi revestida de sigilo, como defesa natural contra a preparação de qualquer ataque da aviação, ou de submarinos inimigos, durante o trajeto. De todos os que estavam a bordo, apenas o Marechal Mascarenhas de Moraes sabia o porto de destino – Nápoles, informação recebida antes do embarque (MORAES, 1969). O desembarque das tropas brasileiras em Nápoles aconteceu a 16 de julho de 1944.
Em 22 de setembro de 1944 embarcaram o 2º e o 3º Escalões (a 22 de setembro de 1944); em 23 de novembro de 1994, o 4º Escalão e em 8 de fevereiro de 1945, o 5º Escalão.
Conforme foi mencionado, a DIE era composta pela divisão de infantaria e pelos órgãos não-divisórios. Além dos três regimentos de infantaria, também faziam parte a Artilharia Divisória e 4 grupos de artilharia. Os demais grupos eram a esquadrilha de aviação, o batalhão de engenharia, o batalhão de saúde, o esquadrão de reconhecimento e a companhia de comunicações (MORAES, 1969).
Os Órgãos Não-divisórios eram formados pelo Comandante da FEB, o Inspetor-Geral da FEB, o Serviço de Saúde da FEB, Agência do Banco do Brasil, Pagadoria Fixa, Seção Brasileira de Base, Depósito de Intendência, Serviço Postal, Serviço de Justiça e Depósito do Pessoal (MORAES, 1969).
A FEB operou na Itália com o efetivo de cerca de 25.334 homens, entre os quais contava-se de 4 generais e 1.535 oficiais. Nesse total estão computados: 13 oficiais da aeronáutica, que serviram na Esquadrilha de Ligação e Observação da 1ª DIE; 15 oficiais da ativa e da reserva destacados para a Justiça Militar da FEB; 26 Capelães Militares; 28 funcionários do Banco do Brasil e 67 enfermeiras (MORAES, 1969).
Entre os 1.535 oficiais estavam desde os que atuavam diretamente no front quanto aqueles encarregados dos serviços de intendência. Segundo Castro (2004), o serviço de intendência é encarregado das atividades de suprimento (alimentos; fardamento e equipamento; combustíveis, óleos e lubrificantes; reembolsáveis; e outros), transporte de pessoal e de suprimentos; em campanha; serviço de banho, lavanderia e sepultamento; dobragem, manutenção de pára-quedas e suprimento pelo ar; administração financeira; e controle interno.
Moraes (1969), narra a “decepção das autoridades americanas com o insuficiente estado sanitário das primeiras tropas brasileiras. Falta de uniformes adequados ao uso em território europeu, a necessidade de adestramento militar” (MORAES, 1969, p. 25)
Moraes (1969) também relata em suas memórias, que os soldados brasileiros tinham pouca preparação física para o campo de batalha, sofrendo principalmente com as adversidades climáticas e potencializada pela precária condição de higiene e pela alimentação.
Nas condições com as quais o Exército Brasileiro se apresentou aos comandantes americanos, houve uma certa decepção, pois as autoridades sanitárias norte-americanas desvalorizaram o valor físico dos contingentes de soldados brasileiros (MORAES, 1969).
Porém, mesmo diante das adversidades, o Exército Brasileiro imperou pela continência e o exemplo de chefes capazes de conduzir os subordinados à vitória, mesmo diante dos sacrifícios que se faziam necessários (MORAES, 1969).
2.3 A FEB no campo de batalha
Após o desembarque em Nápoles, as tropas do 1º Escalão de Embarque da FEB passaram pelas cidades de Bagnoli e Tarquinia e, partindo para sua primeira operação em Vada, a 25 km do campo de batalha no Arno. O percurso para Vada foi, segundo Moraes (1969) bastante penoso para os soldados, pois o terreno era montanhoso. Lá chegando, as tropas brasileiras foram anexadas ao V Exército Americano. Foi na região que se intensificou o treinamento do Exército Brasileiro.
De acordo com Castro, Izecksohn e Hendrik (2004), o primeiro confronto da FEB ocorreu em meados de setembro de 1944 no vale do rio Serchio, ao norte da cidade de Lucca. Os mesmos autores ainda afirmam que em tais combates as tropas brasileiras sairam vitoriosas. As primeiras vitórias da FEB ocorreram já em setembro, com as tomadas de Massarosa, Camaiore e Monte Prano.
Porém, Castro, Izecksohn e Hendrik (2004), observam que a FEB, no final de outubro, na região de Barga, teve diversas baixas de combatentes. Tal fato teria ocorrido porque a FEB foi incumbida de sozinha tomar o complexo formado pelos montes Castello, Belvedere e seus arredores.
Moraes (1960) destaca que, participando da Segunda Guerra como comandante da FEB, alertou ao comando do V exército estadunidense que tal missão era inviável de ser executada pelo efetivo de apenas uma divisão, o que já havia sido demonstrado em tentativas fracassadas por parte de outros efetivos aliados, e que para obter sucesso em tal empreitada seria necessário o ataque conjunto de duas divisões simultaneamente às cidade do Belvedere, de Della Torraccia, do Monte Castello e de Castelnuovo. No entanto, o argumento do comandante brasileiro só foi aceito após o fracasso de mais duas tentativas, desta vez efetuadas pelos brasileiros, uma em novembro e outra em dezembro.
Durante o rigoroso inverno entre 1944 e 1945, a FEB teve duas dificuldades: enfrentou temperaturas de até vinte graus negativos, não contando a sensação térmica; além de contínuos ataques de caráter exploratório por parte do inimigo, que através de pequenas escaramuças procurava tanto minar a resistência física, quanto a psicológica das tropas brasileiras, não acostumadas às baixas temperaturas (HENRIQUES NETO, 2008).
Henriques Neto (2008) descreve que condições climáticas e reações físicas que somavam aos mais de três meses de campanha ininterrupta, sem pausa para recuperação, como também testar possíveis pontos fracos no setor ocupado pelos brasileiros para uma contra-ofensiva no inverno.
Entretanto, a atitude involuntariamente agressiva das duas tentativas de tomar Monte Castello no final de 1944, somada à atitude voluntária de responder às incursões exploratórias do inimigo no território ocupado pela FEB, com incursões exploratórias da FEB realizadas em território inimigo, fez com que os alemães e seus aliados escolhessem outro setor da frente italiana para sua contra-ofensiva, porém este setor estava ocupado pela 92ª divisão estadunidense (HENRIQUES NETO, 2008).
Castro, Izecksohn e Hendrik (2004), afirmam que entre o fim de fevereiro e meados de março de 1945, se deu a Operação Encore , um avanço em conjunto com a recém-chegada 10ª Divisão de Montanha Estadunidense. Assim, foram finalmente tomados, entre outras posições, por parte dos brasileiros, Monte Castello e Castelnuovo, enquanto os americanos tomavam Belvedere e Della Torraccia. Com estas posições no poder dos Aliados, pode-se iniciar a ofensiva final de primavera, na qual em abril a FEB tomou Montese e Collecchio. A conquista de posições pelas tropas brasileiras somadas às obtidas pela divisão de montanha estadunidense neste setor secundário, mas vital, possibilitou que as forças sob o comando do VIII exército britânico, mais à leste no setor principal da frente italiana, se vissem finalmente livres do fogo de artilharia inimiga, que partia daqueles pontos, podendo assim avançar sobre Bolonha e rompendo a Linha Gótica , após oito meses de combate.
De acordo com Moraes (1969), a fase final da ofensiva ocorreu em Fornovo di Taro. Os efetivos da FEB, que se encontravam naquela região em inferioridade numérica, se cercaram e após combates oriundos da infrutífera tentativa de rompimento do cerco por parte do inimigo, conseguiram a rendição de duas divisões inimigas, a 148ª divisão de infantaria alemã, comandada pelo general Otto Freter-Pico e os efetivos remanescentes da divisão bersaglieri italiana, comandada pelo general Mario Carloni.
A rendição das divisões inimigas na fase final impediu que as divisões citadas se retirassem da região de La Spezia e Gênova, recém liberadas pela 92ª divisão estadunidense, e assim se unissem às forças ítalo-alemãs da Ligúria, que as esperavam para desfechar um contra-ataque contra as forças do V Exército Americano, que avançava, de forma rápida, porém difusa e descordenada, inclusive do apoio aéreo, tendo deixado vários clarões em sua ala esquerda e na retaguarda. Assim, destaca-se o papel dos praças brasileiros na fase decisiva do conflito mundial (HENRIQUES NETO, 2008).
Em sua arrancada final, a FEB ainda chegou a cidade de Turim, e em 2 de maio de 1945, na cidade de Susa, onde fez junção com as tropas francesas na fronteira franco-italiana.
Bohmler (1966) afirma que o comando dos exércitos alemães, que já se encontrava em negociações de paz em Caserta há alguns dias com o comando Aliado na Itália, esperava com isso obter um triunfo a fim de conseguir melhores condições para rendição. Os acontecimentos em Fornovo di Taro involuntariamente impediram a execução de tal plano tanto pelo desfalque de tropas, como pelo atraso causado, o que aliado às notícias da morte de Hitler e tomada final de Berlim pelas forças do Exército Vermelho, não deixou ao comando alemão outra opção senão aceitar a rápida rendição de suas tropas na Itália.
A FEB permaneceu na Itália até 03 de junho de 1945 como tropa ocupante (LEÃO; FELDHUES, 2008). De volta ao Brasil, o 1º Escalão desembarcou no dia 18 de julho de 1945, sendo recebidos como verdadeiros heróis da pátria. Porém, uma vez passada a guerra seus feitos foram rapidamente esquecidos (GRACIANI, 2009).
Vários soldados quando voltaram da guerra não tinham emprego nem formação. Segundo as associações de ex-combatentes criadas logo após o retorno da FEB, o desemprego entre os veteranos brasileiros era contabilizado aos milhares (FERRAZ, 2005. p.69). Esses brasileiros que voltaram da guerra como “heróis da Pátria” foram esquecidos pela sociedade. Não servia mais ser herói de guerra se não existia mais guerra, não caberia mais servir ao Estado Novo se ele já não mais existia. A memória dos pracinhas foi apagada da historiografia, quando não ridicularizada por livros e documentários que viram a participação do Brasil na Segunda Guerra como algo insignificante.
Por fim, pode-se entender a magnitude da Segunda Guerra Mundial e os motivos diretos que conduziram o Brasil a enviar tropas para combater os exércitos nazi-facistas. Compreende-se também que os quase 25.000 homens enviados para a Itália tiveram grandes atuações, impedindo a expansão e fusão de tropas dos regimes totalitários, vencendo batalhas ao lado dos exércitos aliados e, contribuindo para o desfecho do conflito nos campos de batalha italianos.
3 METODOLOGIA
O trabalho em questão teve o objetivo de analisar como o depoimento de um intendente da FEB, se relaciona com os relatos do Marechal Mascarenhas de Moraes, dentro da natureza de um mesmo espaço, específico ao cotidiano de atuação da Força Expedicionária Brasileira. Com isso, pretende-se responder à questão de investigação: até que ponto o depoimento do intendente pode contribuir para elucidar sobre as características do cotidiano de atuação da Força Expedicionária Brasileira (FEB)?
A abordagem da pesquisa foi do tipo qualitativa. As principais características dos métodos qualitativos são a imersão do pesquisador no contexto e a perspectiva interpretativa de condução da pesquisa.
O presente trabalho também trata-se de uma pesquisa exploratória, pois têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado (GIL, 2002).
O estudo também é um estudo de caso. Um trata de uma, pesquisa sobre um determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade para examinar aspectos de sua vida”. (BERVIAN e CERVO, 1983, p.57).
O estudo de caso é uma modalidade de pesquisa amplamente utilizada nas ciências biomédicas e sociais. Consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante outros delineamentos “[...] é encarado como o delineamento mais adequado para a investigação de um fenômeno contemporâneo” (GIL, 2002, p. 54).
O estudo de caso busca: “preservar o caráter unitário do objeto estudado; descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação” (GIL, 2002, p.54). E, dessa forma, como o estudo de caso pode ser utilizado nas ciências sociais optou-se pela sua adoção nessa monografia, específico ao veterano da FEB.
Sobre a coleta de dados pode-se dizer que existem dois tipos, que foram igualmente utilizados na pesquisa. No primeiro “estão a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. No segundo o estudo de caso (GIL, 2002, p.43). Enquanto a pesquisa bibliográfica refere-se a livros, artigos e textos que já apresentam um tratamento analítico sobre um determinado assunto, a pesquisa documental refere-se a materiais que ainda não tiveram uma análise propriamente científica, podendo-se se configurar como cartas, diários, fotografias, memorandos, etc (GIL, 2002).
Adotou-se também, a metodologia da História Oral através da realização de entrevista. Esta metodologia possibilita “produzir conhecimentos históricos, científicos e não simplesmente fazer um relato ordenado da vida e da experiência dos outros” (FERREIRA; AMADO, 2006. p. 17)
A entrevista não é simples conversa. É conversa orientada para um objetivo definido: recolher, através do interrogatório do informante, dados para a pesquisa. A entrevista tornou-se, nos últimos anos, um instrumento de que se servem constantemente os pesquisadores em ciências sociais e psicológicas. Recorrem estes à entrevista sempre que têm necessidade de dados que não podem encontrar em registros e fontes documentárias e que podem ser fornecidas por certas pessoas (BERVIAN e CERVO, 1983).
Na entrevista, teve-se contato direto com o entrevistado, no caso o Intendente da FEB. Os dados coletados foram analisados mediante o tratamento qualitativo.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esta seção apresenta um estudo comparativo sobre o cotidiano da Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial. Pra realizar tal comparação, utilizou-se o relato do intendente Leônidas Macedo Filho que aborda o cotidiano da Guerra sob uma perspectiva de caráter individual e o relato de Mascarenhas de Moraes (1960).
Como critério didático, os resultados e discussões são apresentados em dois tópicos: o primeiro aborda a fase de preparação dos soldados da FEB em território brasileiro até o embarque destes para a Itália; o segundo, aborda o cotidiano da FEB entre 1944 e 1945 em território italiano até a chegada dos soldados no Rio de Janeiro, após o término da Guerra.
4.1 O ingresso no Exército e a partida para a guerra
Leônidas Macedo Filho participou da Segunda Guerra Mundial como Intendente da Força Expedicionária Brasileira, na Itália no período de 1944-45. Ao especificar sobre o serviço por ele realizado durante a guerra, Macedo Filho concede o seguinte relato: “Como intendente, a gente trabalhava no serviço de reposição. Eu não trabalhava com armas não, o meu serviço era somente repor a munição e o fardamento” (MACEDO FILHO, 2007).
Assim, apesar de não ter atuado diretamente no campo de batalha, o intendente pode esclarecer o processo de movimentação e atuação das tropas brasileiras, tendo em vista que a intendência participa diretamente sobre o processo de logística de guerra.
Macedo Filho nasceu em 20 de março de 1921, em Candeias/MG . É casado com Dona Maria de Lourdes, tendo quatro filhos. Reside na zona urbana de Campos Altos/MG , desde o ano de 1949.
Comerciante durante toda sua vida, Macedo Filho descreve sua família de forma bastante simples e demonstra orgulho em falar dos filhos, pois, ingressaram e concluíram curso superior e alcançando carreiras de sucesso:
Márcio cirurgião dentista, mora em Portugal há 16 anos. Marcelo, é advogado, técnico em eletrônica, comerciante mora aqui em Campos Altos, meu sucessor no comércio. Ricardo Macedo, empresário aqui em Campos Altos, é economista. E a Maísa Macedo é decoradora, arquitetura, casada com um veterinário do Estado de São Paulo, mora em São Gotardo (MACEDO FILHO, 2007).
Macedo Filho ingressou no Exército Brasileiro como voluntário. Perguntado se serviu por livre vontade, o entrevistado respondeu:
Servi por que quis, naquele tempo era muito difícil, instrução e trabalho e tudo dependia de ter carteira de reservista, pra empregar tinha de ter a carteira de reservista, então eu fui para tirar a carteira de reservista. Eu fui voluntário em 1941 (MACEDO FILHO, 2007).
Entende-se, com base no primeiro relato, que o principal motivo que levou Macedo Filho a ser alistar foi o aspecto econômico, ou seja, possuir o certificado de reservista era ter uma porta de entrada para conseguir emprego.
Macedo Filho afirmou que seu certificado de reservista foi retirado por volta do ano de 1941, mesmo ano em que ingressou seu serviço voluntário no Exército. “Naquele tempo o Brasil não tinha declarado guerra ainda, mas estava mais ou menos no caminho” (MACEDO FILHO, 2007).
Devido ao fato de a guerra já ter se alastrado em toda a Europa, pode-se pressumir que Macedo Filho sabia da possibilidade de ir para a Guerra. À época em que Macedo Filho requereu seu Certificado de Reservista, a Segunda Guerra Mundial já havia se iniciado com a invasão da Polônia em 1º de setembro de 1939. (ANVFEB, 2007), isso em termos bélicos.
Porém, a FEB somente seria estruturada “em 9 de agosto de 1943, pela Portaria Ministerial número 47/44, constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária e por Órgãos Não-Divisionários” (FGV, 2008). Isso ocorreu cerca de dois anos após Macedo Filho servir ao Exército. Contudo, do período em que serviu no Brasil até sua atuação na FEB em campos da Itália, transcorre-se um tempo de três anos, pois Macedo Filho foi voluntário em 1941 e a FEB atuou na Itália a partir de 1944.
Segundo o depoimento de Macedo Filho, devido à demora do Brasil em enviar tropas ao campo de batalha, a imprensa da época começou a tecer comentários em relação ao General de Divisão João Batista Mascarenhas de Moraes: “Mascarenhas Demoraes, - porque demoras ir para a guerra?”(MACEDO FILHO, 2007).
Por sua vez, a insígnia da FEB, também diz sobre a demora, “a cobra fumando foi o símbolo escolhido em resposta a um repórter carioca que dizia: é mais fácil a cobra fumar que o Brasil entrar na guerra” (FGV, 2008). Assim, segundo a versão de Leônidas, as críticas de imprensa sobre a posição do Brasil na guerra foi um fator decisivo para que o país saísse da posição de neutralidade e enviasse tropas para o campo de batalha. Também há que se ressaltar que o ataque a navios brasileiros no pacífico por forças nazi-fascistas seria um fator decisivo para a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
Macedo Filho, ao longo do seu depoimento não demonstrou ter tido receio sobre a Guerra, nem arrependimento. Cabe lembrar que em 1943 com a constituição das FEB, os reservistas de 1ª categoria (caso em que se enquadrava Macedo filho) seriam convocados paras as tropas brasileiras.
Questionado sobre a reação de sua família, Macedo Filho ressaltou que “reagiram mais ou menos pois os problemas que eu tinha era os problemas da minha família ninguém falou que não fosse” (MACEDO FILHO, 2007).
Henriques Neto (2008), ao realizar uma rápida discussão sobre a estruturação da família à época da Guerra, afirma que os laços familiares eram um pouco diferenciados, as famílias percebiam no fundo a necessidade de seus filhos servirem à pátria.
Sobre essa observação, Macedo Filho (2007) relata: “apesar de a família não gostar de me ver em batalha, ter o certificado de reservista era uma necessidade e portanto, não poderiam fazer nada a respeito do assunto” (MACEDO FILHO, 2007).
O período de 1941 a 1942 em que Macedo Filho serviu no Exército, ele atuava na base de São João Del Rei, em Minas Gerais: “em São João Del Rei, eu era contador da tesouraria” (MACEDO FILHO, 2007).
Quando perguntado sobre quando ele havia sido convocado para ir para a Guerra, Macedo Filho afirma.
Na Guerra foi em 1942, não em 1944, fui de São João Del Rei para o Rio de Janeiro, fui fazer o treinamento. Juntaram toda a tropa lá no Rio, nós ficamos quatro meses, treinando e tudo pra ir pra Guerra. Em 1944, dia 2 de julho nós saímos de navio do Rio de Janeiro. (MACEDO FILHO, 2007).
De acordo com esse depoimento de Macedo Filho, encontra-se uma discordância com relação ao tempo, em comparação com as memórias de Mascarenhas de Moraes (1960), pois este afirma que o recrutamento para a guerra aconteceu apenas a partir de outubro de 1943. Porém, de acordo com Macedo Filho (2007), os reservista de 1ª categoria já estavam em treinamento no Rio de Janeiro desde 1942.
Moraes (1960) afirma que uma vez convocados os reservistas para servirem às Forças Armadas Brasileiras, por meio da Portaria Ministerial 47/44 de 9 de agosto de 1943, houveram grandes dificuldades para organização da FEB. Dentre os obstáculos citados por Moraes (1960) destaca-se a rapidez com a qual era necessário treinar as tropas segundo o padrão de organização norte-americana:
Há longos anos o Exército Brasileiro vinha sendo instruído de acordo com a “escola francesa”. De repente, quase da noite para o dia, dentro da antiga moldagem, e no quadro da doutrina gaulesa, surgia a tarefa de constituir uma Divisão de Infantaria, com a organização norte-americana. E além disso, instruí-la e treina-la segundo métodos, processos e meios norte americanos (MORAES, 1960, p. 24)
Outras dificuldades apontadas por Moraes (1960) dizem respeito à quantidade de material de guerra disponível para as tropas e a tradução dos manuais americanos, que contou com o apoio de diversos oficiais que haviam estagiado no Exército dos Estados Unidos.
Mesmo diante das dificuldades enfrentadas foi possível concluir o treinamento inicial das tropas brasileiras em 24 de maio de 1944 (MORAES, 1960).
Perguntado sobre quantos dias durou a viagem, ele disse “doze dias, o período que durou a viagem desde o dia em que saímos do Rio de Janeiro até o dia em que fomos desembarcar em Nápoles” (MACEDO FILHO, 2007).
Macedo Filho especifica que fez parte do 1º Escalão de Embarque que viajou a bordo do navio americano General Mann (MACEDO FILHO, 2007). O navio conduziu cerca de 6.000 combatentes. Ainda a respeito dos demais escalões de embarque, Macedo Filho afirmou: “depois ele deu diversas viagens e tinha outro irmão dele, General Meigs”, levando “mais tropas” (MACEDO FILHO, 2007). Foram deslocados exatamente cinco Escalões da FEB para a Europa, entre 2 de julho de 1944 a 8 de fevereiro de 1945, O navio “General Mann” levou o 1º Escalão de embarque, sob o comando do General Zenóbio da Costa, acompanhado do General Mascarenhas de Moraes.
Macedo Filho (2007) afirma que os semblantes dos combatentes eram variados, indo da admiração ao medo. A bordo do navio, a situação eram bastante instável. Moraes (1969) afirma que ainda havia ainda o risco de o navio ser atacado durante o percurso, daí o motivo da escolta até a Europa. A bordo, os soldados faziam exercícios para abandonar o navio, e usavam obrigatoriamente salva-vidas, além de seguir outras regras de segurança.
Sobre a questão da segurança dos navios, Moraes (1960) afirma o seguinte:
Poderosos e graves foram os motivos que impuseram a montagem de um eficiente sistema de escolta aos navios transportes que conduziram os cinco escalões da FEB. Em razão da probabilidade de intervenção dos submersíveis contrários, destróieres brasileiros e belonaves de combate americanas acompanharam até o estreito de Gibraltar os navios que transportavam as tropas. A viagem no mediterrâneo realizou-se com um nova escolta de navios americanos e ingleses, contando com constante cobertura aérea (MORAES, 1960, p. 37).
Observa-se que, tanto na visão de Macedo Filho (2007) quanto para Moraes (1960), o risco de ataque aos navios de transporte das tropas brasileiras era eminente, o que exigiu um alto esquema de segurança para que as tropas concluíssem a viagem com êxito.
O navio tinha divisões de alojamentos que variavam de acordo com a classe (nível) do combatente:
Tinha cinco classe. Eu era da primeira classe. –pausa pequena- Eu ficava vendo os peixes voar né. Os peixe voador né. O navio ia passando assim, os peixe saia fora d’aguá, ficava voando e tornava a cair lá na frente. A gente ficava vendo aquilo. Baleia ficava vendo. De vez em quando chegava baleia. Essas coisa (MACEDO FILHO, 2008)
Pode-se então presumir que Macedo Filho (2007) apesar de ser reservista de 1ª categoria , contava com certos privilégios no navio, pois viajou nos melhores alojamentos.
Os reservista de 1ª categoria tinham uma certa liberdade com relação às demais classes. Eles viajavam na parte superior do navio o que possibilitava maior liberdade como ver os peixes, e também os aviões no céu. O mesmo não acontecia nas demais classes, pois além de não possuírem boa visão do mar e do céu eram bem mais frias. “Fria. A nossa era muito quente mas pelo menos a gente via alguma coisa. A classe lá, eles chamava era deck né” (MACEDO FILHO, 2008).
Moraes (1960) também descreve como eram as situações nos alojamentos dos soldados:
As regras de segurança também impuseram o escurecimento do navio, durante a noite. Com a efetivação de tal medida, todo pessoal embarcado era empilhado nos alojamentos, que se fechavam para impedir a filtração da mais fraca réstia de luz. Por sua vez, as noites eram desagradáveis, quentes e infindáveis, vividas em compartimentos abafados e lotados até o teto (MORAES, 1960, p. 64).
O depoimento do Intendente Macedo Filho (2007) e do General Mascarenhas de Moraes (1960) se complementam ao descrever as situações desconfortáveis as quais os soldados foram obrigados a realizarem a viagem de ida para a guerra.
De acordo com Macedo Filho (2007), a viagem foi tranquila e não preocupava o fato de estar indo para a guerra, também não sentiu quaisquer transtornos físicos durante o percurso:
Não. Não dei enjôo. Tive sorte porque muitos lá né, nem comer não podia. Não dava conta. Enjoava demais. O navio levava 5 mil. 5 ou 6 mil passageiros. Tinha mais, mil e tantos tripulantes. Ele tinha quase 7 mil pessoas. É gente demais né. (MACEDO FILHO, 2008)
A maior parte do tempo na viagem de ida à Itália era de tempo ocioso. Os soldados que viajavam na parte superior do navio ficavam apenas olhando o mar e os peixes que saltavam fora d’água, não havia qualquer tipo de jogo ou outro procedimento para preencher o tempo ocioso de acordo com o depoimento concedido por Macedo Filho (2007).
Quanto ao destino, Macedo Filho (2007) ressalta o seguinte:
Um major fez um discurso lá, falou que nosso destino seria Oram, Argélia, ou Casa Blanca. Um desses três lugares. Tanto que eles começaram até lecionar francês né, achou que ia pra Oram, Argélia, ou Casa Blanca. Depois nós passamos em Gibraltar. A gente tinha uma noção mais ou menos de Geografia né. É nós passamos em Gilbraltar então nós passamos ali para o lado da Europa né. Deve ser Portugal, Itália. Depois começamos ver o Vesúvio, Vesúvio tava em erupção, jogando fumaça né e cinza. Então ai nós começamos bolar que ia pra Itália né. Fizeram as recomendações né. O que podia fazer (MACEDO FILHO, 2008).
De acordo com o relato, percebe-se que o local de destino era incerto. Já no Mediterrâneo, eles começaram a supor que poderiam ir para a Itália. Talvez, por segurança, o local de desembarque fora mantido em sigilo, pois a ameaça era um fato, conforme observação do entrevistado:
Tava os alemães tinham os submarino né, tinha submarino. Mas também tinha comboio né. Nós fomos em comboio né. Não fomos num navio só. O navio foi comboiado por aviação e por submarinos. Também. É pra proteger né. Se bobiasse os alemães afundavam o navio. (MACEDO FILHO, 2008)
Macedo Filho descreve como foi à chegada na Itália: “em Nápoles, nós desembarcamos lá, ficamos lá umas três noites, no subúrbio de Nápoles. E de lá nós fomos para Vada, lá nós fizemos o treinamento” (MACEDO FILHO, 2007).
Moraes (1960) descreve com maiores detalhes sobre o desembarque no Porto de Nápoles:
A área, infelizmente, não fora preparada para receber nossa tropa. Não havia barracas para praça, nem cozinhas, por isso, a tropa utilizou a ração americana de reserva, tipo C, e teve de bivacar em meio a uma noite terrivelmente fria, o que constituiu um rude teste para nossa gente (MORAES, 1960, p.43)
De acordo com o que foi percebido no depoimento de Moraes (1960), a chegada em terras italianas já representou algum desafio para as tropas brasileiras, principalmente com relação ao clima frio da Europa.
Estando já no cenário da Guerra, foi perguntado ao entrevistado sobre a reação dos combatentes. Ele disse: “medo eu só senti no dia que nós desembarcamos” (MACEDO FILHO, 2007). Esse medo foi em virtude do primeiro contato com a guerra que ocorreu ainda no porto de Nápoles.
Porque todo dia 15 e 30 o porto de Nápoles era bombardeado pelos alemães e no dia 15 ele não foi bombardeado, então nós chegamos lá no dia 16 de manhã, e os americanos nos avisaram, falaram: todo dia 15 e 30 os alemães bombardeiam o porto, ontem não bombardearam, hoje pode haver bombardeio. Não deu outra, de noite eu dormia sozinho numa barraca, quando foi de noite os alemães começaram a bombardear o porto, veio à artilharia inglesa, atirando nos aviões também, abateram algum avião né (MACEDO FILHO, 2007)
Além do medo demonstrado frente ao primeiro contato com a guerra, observa-se a forma como os alemães combatiam naquele local. Os ataques em dias marcados, sendo assim efetuados só poderiam causar alguns danos materiais, pois as pessoas provavelmente sairiam do porto nestes dias. Ainda sobre o medo, ele acrescenta com risos de descontração “eu tremi de medo, mas foi só a primeira vez, só o batismo de fogo – risos - Depois eu não tive mais medo não, não teve oportunidade para medo” (MACEDO FILHO, 2007).
Leão e Feldhues (2008, p. 126) afirmam que “quando um homem seguia para a frente, pensava: Agora arrisco tudo. Jogo toda a minha vida, tudo o que espero fazer e tudo o que amo. Arrisco tudo contra a morte”.
Nesse mesmo sentido, Macedo Filho (2007) afirmou que não teve mais oportunidade para medo, não ocorreu outro incidente, mas riscos haviam, agora já era um membro da FEB lutando pelo Brasil como aliado no território do norte da Itália.
Analisando a obra de Moraes (1960) no qual este general descreve o cotidiano das tropas brasileiras, não se encontrou nenhuma referência sobre o ataque ao Porto de Nápoles presenciado pelas tropas brasileiras e descrito por Macedo Filho (2007).
As tropas brasileiras iriam lutar ao lado dos aliados, formados por ingleses e americanos. Os americanos tinham dois exércitos na Itália, o VIII Exército inglês e o V Exército americano, neste último, foi anexada a FEB (MACEDO FILHO, 2007).
4.2 O cotidiano da Guerra
As tropas da FEB já tinham sido submetidas a treinamento aqui no Brasil, e foram novamente treinadas com reconhecimento de território na Itália. Sobre esse fato, Macedo Filho (2007) respondeu: o escolhido
Fomos treinar, lá tinha instrutores americanos, que nos instruíam sobre guerra e tudo. Nós ficamos lá, completamos o treinamento lá, e de lá nós mudamos para o subúrbio de Pisa. Esse parque era no subúrbio de Pisa, depois nós mudamos para Pistóia. Pistóia era uma cidade assim de 35.000 habitantes, uma cidade boa, entroncamento de rodovia. E eu servi lá, a maior parte do tempo, eu servia no Quartel-General. Meu serviço era receber mercadoria, no Exército americano, todo dia eu ia em Florença receber mercadorias, eu ia de caminhão (MACEDO FILHO, 2007).
Da mesma forma que Macedo Filho (2007) descreve o treinamento, Moraes (1960) também realiza algumas menções esse processo de preparação das tropas, explicitanto alguns cuidados que deveriam ser tomados pelas tropas:
Instalara-se o 1º Escalão de Embarque da 1ª DIE no acampamento de Vada, com o objetivo de ultimar seu treinamento para o combate. Disfarçava-se sob esplêndido parreiral o nosso acampamento. Mas, os cuidados que devíamos manter, dadas as vizinhanças da zona de combate, não eram poucos. O funcionamento de nossos serviços, com a nova situação que exigia disciplina de luzes e de circulação veio a ser encarado com espírito mais objetivo (MORAES, 1960, p. 49)
Por meio da citação de Macedo Filho (2007) percebe-se que, no acampamento em Vada, as tropas brasileiras, além do treinamento final para o combate, presenciaram as primeiras estratégias de guerra.
Macedo Filho (2007) ao descrever sua situação pessoal no acampamento em Vada, afirmou que, neste local realizou um treinamento com armas, pois ainda não estava definido como ele teria de servir, se iria para o front, ou outra função, “na Itália, eu fui como depósito de pessoal. Lá eu fui transferido para o Quartel-General, serviço de intendência” (MACEDO FILHO, 2007). E explica quais seriam suas funções. “Mais burocrática. Quartel General era o comando de guerra, da nossa divisão lá né, lá eu fiquei até o fim da Guerra, eu fui licenciado nesse serviço” (MACEDO FILHO, 2007).
A instalação do Quartel General (QG) deu-se na cidade de Porreta Terme, conforme descrito por Macedo Filho (2008).
O Quartel General, tinha mil e trezentas pessoas. Só o Quartel General, tinha mil e trezentas pessoas. Então a gente conhecia alguns, os mais chegados. Mas não conhecia todo mundo não né. Era difícil 25 mil pessoas –riu- conhecer todo mundo. É só os conterrâneos mesmo né.(MACEDO FILHO, 2008)
Moraes (1960) classifica como ótimas as condições de infra-estrutura do Quartel General montado em Porreta Terme. Apesar de atuar apenas dentro do QG, localizado na cidade de Porreta Terme cerca de 30 km da frente de batalha, Macedo Filho (2008) afirma que corria riscos quando o QG era atacado. Mesmo sendo Intendente, tinha de participar da defesa do local, o qual fazia sob as ordens dos superiores. O entrevistado fala das metralhadoras ponto 50, as quais foram muito usadas, não só pela FEB, como também pela Força Aérea Brasileira – FAB, pois os ataques à região eram provocados também por via aérea.
Ainda tratando a respeito do QG, Macedo Filho (2007) afirma o seguinte:
Não... tinha sim, eu até fazia parte de uma peça de metralhadora ponto 50, que fazia parte da defesa do Quartel-General. Eu também fazia parte dessa peça de metralhadora porque quando o Quartel-General era atacado nós tínhamos de correr para essas metralhadoras e ficar esperando autorização para atirar, mas nunca veio autorização pra gente atirar porque eles alegavam que os tiros denunciavam a presença do Quartel-General ali, então a gente ficava quieto até esperar a última ordem. Os alemães jogavam alguma bomba, davam algum tiro de metralhadora e iam embora, nós não respondíamos não. Tinha quatro peças de metralhadora ponto 50 lá, ponto 50, é meia polegada a bala. Então nós fazíamos parte dessa defesa do Quartel-General. O negócio meu era da intendência, seção de equipamento e fardamento. (MACEDO FILHO, 2008)
De acordo com o depoimento de Macedo Filho (2007), seu QG foi atacado diversas vezes (não se lembra quantas), porém eram ataques pequenos (alguns tiros ou bombas), e porque se mantinham em silêncio, os inimigos iam embora, pois não desconfiavam que o centro de operações funcionava naquele local.
Observa-se que não foi encontrada nenhuma menção na obra de Moraes (1960) sobre esses ataques ao QG.
Macedo Filho (2007) descreve também com certa clareza de detalhes sobre o regresso dos aviões do campo de batalha. Para ele, os aviões voltavam cheirando a muita pólvora, devido às descargas de suas metralhadoras.
A mesma concepção pode ser encontrada em Lima (1980):
Air Force formada de seus famosos Thunderbolts usados como caças-bombardeiros mantiveram-se sempre abrindo caminho, usando aquelas oito metralhadoras calibre .50, que mais pareciam um feixe de rifles. Quando os aviões regressavam dos seus ataques, tudo cheirava a pólvora, ficando nos canos das metralhadoras aquela mancha de fumaça negra (LIMA, 1980, p. 21).
Era exatamente no serviço de munição e fardamento no qual atuava Macedo Filho. Sua função era principalmente de manhã, repondo o material que havia sido perdido durante as batalhas da noite. Esse material perdido era buscado na cidade de Florença, conforme descrito a seguir:
Armas não. Era munição, era equipamento e fardamento. Fazia um combate durante uma noite e perdia muito material. Ai tinha que buscar material todo o dia para suprir aquele que falta, então todo o dia ia à Florença, almoçava lá no quinto Exército e ia jantar em casa (MACEDO FILHO, 2007)
Observa-se que o entrevistado ao relatar “ia jantar em casa” se referia ao QG localizado em Porreta Terme. Nota-se que o intendente manifesta tranquilidade ao descrever sua atuação nas FEB mesmo diante do perigo de sofrer ataques: “Eu não era combatente, eu era da intendência, eu era intendente, porém conversava muito com os colegas do front, sobre os combates” (MACEDO FILHO, 2007).
Sobre as conversas tidas, relata uma observação: “O pessoal da FAB, também conversava muito, comentavam sobre os chefes, como havia se sucedido os bombardeios, como sobreviviam às quedas dos aviões e aos campos de concentração” (MACEDO FILHO, 2007).
No front, a luta dos brasileiros em território italiano não era somente contra os nazistas, mas também com integrantes do Fascismo existente na Itália em 1944-45: “Era Alemanha nazista e Itália fascista” (MACEDO FILHO, 2007).
Na concepção de Macedo Filho (2007), alemães e italianos “era tudo inimigo. Os alemães eram aliados com os Fascistas né”. E explica:
Era Fascista porque o símbolo deles era o “faschio” o feixe de lenha, então uma pessoa só era fácil de ser destruída, mas muitos já era mais deficil, então, era um feixe amarrado, aquilo era muito forte, não quebrava nunca, mas quebrou (MACEDO FILHO, 2007).
Apesar de não presenciar muitas mortes, Macedo Filho, diante das conversas que tinha com seus colegas de front e também pela visão que teve nas cidades em que ocorreram batalhas com o Exército brasileiro, revela como agiam os soldados alemães e como se comportavam no território italiano:
Nem das tropas brasileira, nem dos alemães, os alemães só faziam ruindade com os italianos né, quando eles saiam de um lugar que achavam comida, azeite, eles tinham muita fé com azeite, eles abriam a torneira e deixava escorrer lá no chão, deixava tudo ir embora, até as vacas, tinha uma moça lá que tinha uma vaquinha, os alemães queriam levar a vaquinha dela. (risos) os alemães queriam levar, eles levavam tudo que viam de comer de beber, vinho, óleo, gado, criação, galinha. (MACEDO FILHO,2007).
Contudo, devido ao apoio dos fascistas italianos, os alemães não matavam civis italianos:
Não. Matar eles não matavam não. Se fosse judeu eu não sei, porque era uma setor que a gente não militava né. Mas se soubesse que tinha judeu, eles devem que levava né, no mundo inteiro eles levaram né, levaram os judeus para matar na câmara de gás. (MACEDO FILHO, 2007).
Essa clareza na descrição do comportamento dos alemães resulta das constantes idas às cidades vizinhas para a busca de suprimentos. Por sua vez, nesse processo de deslocamento, havia o perigo constante de ataque dos inimigos: “Tinha perigo, porque eles bombardeavam na estrada, em qualquer lugar, se vissem um carro andando lá, eles bombardeavam o carro né.” (MACEDO FILHO, 2007).
Todavia, o entrevistado, em seu processo de deslocamento, nunca foi ferido: “Eu nunca fui ferido na campanha, eu ia à Florença todo dia de caminhão, buscar mercadoria. Então só ia o chofer e eu, só duas pessoas. Aí ia todo dia, buscar mercadoria” (MACEDO FILHO, 2007).
Por sua vez, outros setores do serviço de intendência não tiveram a mesma sorte, segundo o depoimento de Macedo Filho (2007):
O pessoal da Intendência que tratava da alimentação, era outra seção, e essa seção foi atacada pelos alemães, em cada caminhão tinha uma metralhadora ponto 50 na cabine do caminhão, em cima, tinha uma escotilha, um buraco, onde ficava a metralhadora, e gastava vinte e tantos caminhões para trazer mercadoria, todo dia isso, para 25.000 pessoas comerem né. (MACEDO FILHO, 2007)
O entrevistado, apesar de não fazer parte da intendência de alimentação que fora atacada pelos alemães, descreve com certa clareza de detalhes o ocorrido:
Para o caso de defesa, e a Intendência sendo atacada por aviões alemães, os brasileiros então pararam os caminhões e abateram o avião. Então o General Mascarenhas, fez um elogio a Intendência, falando que até a Intendência que não tinha nada com Guerra, com tiro, abateu o avião, então tinha que vencer mesmo a Guerra, porque tinha a cooperação de todos. (MACEDO FILHO, 2007).
A respeito do relacionamento dos civis italianos com as tropas brasileiras, Macedo Filho descreve, que aconteciam variações no humor dos italianos:
Os italianos recebiam muito bem a tropa, no primeiro dia. – pausa - a população vinha nos encontrar e chamavam “americani, liberatore” e não sei o quê. Depois duns três dias começavam xingar: “ô maldito americani” e não sei o quê –risos - mas os italianos xingavam até Cristo, falavam “maldito Cristo” é um dito italiano lá, chamavam até Cristo de maldito. (MACEDO FILHO, 2007)
O entrevistado acredita que o motivo da variação de humor dos italianos com relação às tropas seja porque: “Eles achavam que a gente ia dar tudo na mão pra eles né, igual esses “Sem Terra” quer tudo de graça né, os italianos queriam tudo de graça, roupa, comida, gasolina pra andar a toa, queria que desse tudo pra eles”. Com essas esperanças, um não atendimento levaria a tais reações: “Aí hora que não podia dar, eles já começavam xingar né, mas nós nos dávamos muito bem com os italianos” (MACEDO FILHO, 2007).
Apesar dos desgastes, as tropas lidavam bem com os italianos:
A gente falava um pouco de italiano, é muito semelhante ao português né, dá pra entender e a gente já chegava e entrosava com os italianos, arranjava namorada e ficava conversando, aprendendo italiano –risos- e elas não gostavam dos alemães, as italianas não gostavam dos alemães (MACEDO FILHO, 2007).
A forma de comunicação aberta dos brasileiros e americanos agradavam às italianas, que por sua vez gostavam pouco dos ingleses, “pois eles eram muito fechados, eles não davam muita conversa não” (MACEDO FILHO, 2007).
Por sua vez, as mulheres italianas odiavam os alemães, assim observado pelo entrevistado:
Elas xingavam os alemães, os alemães elas chamavam de tedeschi, il tedeschi sono bruto e cativo, quer dizer: feio e ruim, -risos-. Os brasileiros era mais bonitos, mais agradável né – risos-. A gente dava muitos presentes às italianas né, até pão era um presente, eles lá não tinham nada. –pausa-. Passavam fome, então a gente conseguia lá no Quartel um pão de forma, levava para italiana dava de presente, ela falava: Oh, eu como esse pão, como se fosse um doce. Ficava toda satisfeita de ganhar um pão, porque estavam passando fome. (MACEDO FILHO, 2007).
Esse último relato o deixou com uma expressão muito triste, talvez o único momento da entrevista no qual o veterano retirou, mesmo que por momentos, o tom sereno de seu rosto.
O contato com os civis italianos com brasileiros se apresenta, na medida do possível, muito bom. No caso, o ex-combatente relata principalmente o público feminino: “Tinha muita moça e tudo, e os homens tava na Guerra né. Eles tavam em outros lugares né. Tinham sido levados pelos alemães para fazer o serviço militar em outras cidades né, em outros locais.” Pode-se perceber que havia pouco contato das tropas brasileiras com homens italianos (MACEDO FILHO, 2007).
Os alemães traziam transtornos para os italianos e isso, fazia com que fossem recebidos com aversão na maioria das cidades. Para ilustrar essa situação, Macedo Filho (2007) relata o seguinte caso:
Tinha uma outra italiana. Que tinha uma vaquinha. Os alemães pegaram a vaca pra levar, né (...) Então uma me contou que conseguiu dobrar o alemão lá, pra não levar a vaquinha. Ela começou a chorar, abraçou a vaca e [riu] ficou naquela coisa. E o homem acabou deixando a vaca –ele quase riu- pra ela né. É,....mais era isso. (MACEDO FILHO, 2008)
Aqui, o entrevistado demonstra certo entendimento sobre à aversão social e à pilhagem de guerra, pois, para ele, uma vaca serviria de alimento para esses soldados, mas isso não justifica a violência do roubo e do desperdício, jogar fora a comida das italianas faziam com que elas ficassem com ódio dos Nazistas.
Sobre a idéia do Nazismo, Macedo Filho considera que, na época não era conhecedor aprofundado sobre essa ideologia, somente sabia que era um regime muito ruim: “Ah, eu achava ruim né, nunca tive essa idéia de Nazismo não. Era uma coisa ruim. –pausa- O Fascismo era um outro ramo né - pausa- Era mais ou menos igual, todos os dois tinham as mesmas teorias”. (MACEDO FILHO, 2007).
Como Macedo Filho conhecia pouco sobre a ideologia dos regimes fascista e nazista, em campos italianos, ele passou a ter maior contato com tais ideologias. Sobre Benito Mussolini por exemplo, ele afirma o seguinte:
(...) lá na Itália falavam muito. Mas também falavam muito mal, eu ia numa igreja católica lá em Florença, numa basílica muito bonita, todo domingo eu ia à missa lá em Florença e um dia tinham três senhoras de capote, de uma delas caiu o botão do capote, eu vinha logo atrás, catei o botão e entreguei pra ela, ela disse: “isso é culpa do Mussolini”. Ela disse: “é que as coisas do Mussolini são todas falsas, a linha não presta, é tudo feito de matéria plástica”, a casimira é feita de leite, eles transformavam leite num produto chamado caseína e daquela caseína eles faziam a linha, faziam a casimira, a roupa tinha cheiro de leite. Mas as estradas eram muito boas, as estradas eram uma beleza. Estrada de primeiro mundo.(MACEDO FILHO, 2007).
Nota-se, portanto, que apesar de Mussolini governar a Itália sob o regime fascista, uma grande parte dos civis italianos eram contra esse regime, atribuindo ao governante, todas as pequenas e grandes desgraças que aconteciam ao povo. A revolta do povo italiano contra o líder fascista iria culminar em sua morte: “(...), tanto que os italianos mataram o Mussolini, penduraram ele e o fuzilaram –pausa- é e os italianos é que fizeram isso, não foi nós” (MACEDO FILHO, 2007).
Por outro lado, a visão de Hitler pelos civis italianos ainda era mais caótica. Assim relatado pelo entrevistado: “Aquele era pior ainda que o Mussolini, porque ele é que era o cérebro da ruindade”. O entrevistado continuava:
Falavam mal, ninguém falava bem dele, nem na Itália, nem no Exército brasileiro, não falavam. Os italianos, os alemães eles fizeram uma lavagem cerebral neles, eles achavam que era bom, mas depois eles viram que ele arrastou 50.000.000 de pessoas para a morte né (MACEDO FILHO, 2007).
De acordo com o depoimento de Macedo Filho (2007), inicialmente os italianos civis compactuavam com as idéias de Hitler devido à influência dos alemães e ao desconhecimento dos atos cometidos nos campos de concentração. Por sua vez, quando passaram a ter ciência das ações do regime fascista passaram a apoiar os exércitos aliados, principalmente quando passaram a sofrer os horrores da guerra, por exemplo, a fome.
Observa-se que em nenhum momento o entrevistado Macedo Filho (2007) demonstrou atitude de arrependimento por ter combatido as idéias do regime nazista:
Não isso eu não tive de jeito nenhum, eles é quem provocaram né, afundaram os nossos navios, nós fomos lá pra vingar o que fizeram aqui com nossos navios né, eles bombardearam os navios, aí o Brasil protestou e acabou mandando as tropas pra lá pra combater essa teoria dos alemães. (MACEDO FILHO, 2007).
A visão do entrevistado também atribuiu importância às invenções impulsionadas pela guerra, sem contudo, abnegar-se das atrocidades que nela ocorreram.
A guerra de modo geral é cruel né, foi devastadora e cruel. Mas infelizmente a gente não vive sem a guerra né, a guerra também tem o lado progressista né, muito medicamento muita coisa foi inventada na Guerra né, penicilina, outros remédios, antibióticos. (MACEDO FILHO, 2007).
Mesmo com a violência e morte, a indústria da guerra contribuiu para o progresso: “Tanto dos alemães como do outro lado né, americanos, ingleses, franceses, todos tiveram inventos né. A guerra é comercial, política, e tem o lado bom, muita coisa foi inventada, né, aperfeiçoou muita coisa, né” (MACEDO FILHO, 2007).
A visão do entrevistado sobre a Segunda Guerra na época é a mesma na atualidade, mesmo tendo passado mais de sessenta anos de seu término: “Não muda nada né, é a mesma coisa sempre.” (MACEDO FILHO, 2007).
O que teria sido mais violento: a Guerra ou as guerras de hoje? “Acho que toda a vida a guerra foi violenta né”. E sobre as diferenças: “Não tem diferença, é que antigamente não filmava, não saía fotografia em jornal, nem nada né, agora tá mais liberal né, mostra tudo que acontece né” (MACEDO FILHO, 2007).
Sobre o relacionamento entre os soldados brasileiros tanto no QG quanto no Front de batalha, o entrevistado relata:
Era mais liberal do que aqui no Brasil. Aqui a gente tinha que respeitar muito a hierarquia né, tinha que obedecer muito os superiores. O superior nunca mente, o superior falou é verdade, os que eram subordinados eram vitimas né. Lá na Itália a gente contradizia, discutia e era, -pausa- consultado também por outras pessoas mais graduadas, era mais liberal, tinha mais liberdade (MACEDO FILHO, 2007).
No caso, nota-se que o cotidiano da guerra também pode ser caracterizado por uma flexibilização da rigidez militar:
O Mascarenhas era comandante da nossa divisão. A nossa divisão, era subordinada ao quarto corpo do Exército americano. Guarnecido pelo General Clitemberg e o, quarto corpo fazia parte do general do V Exército, que era o Clark. O Clark era subordinado a esse marechal Alexander do Exército inglês. E era um grupo de Exército né. Era o V Exército americano e o VIII Exército inglês. (MACEDO FILHO, 2008).
Não havia proibição em dirigir a palavra aos superiores, porém Macedo Filho (2007) afirma que poucas foram as vezes que se dirigiu general Mascarenhas, e também nunca conversou com o general Clarck (comandante da Divisão Americana a qual o Exército Brasileiro era subordinado). As poucas vezes que o general Clarck visitou o QG brasileiro foi com muita pressa.
Eu conversei muito com o Mascarenhas porque o capitão que era meu chefe era amigo do General Mascarenhas. Eu fui convidado pra ir pra Guerra pelo General Mascarenhas, ele-o capitão- era intendente. E o Mascarenhas quando queria falar com o capitão ele ia lá na nossa barraca. Chegava lá, o capitão não parava lá né. Ele chegava lá. Cadê o capitão? Eu esqueci o nome dele. Era um nome inglês. Então eu falei: ele saiu o senhor quer eu vou procurar? Não pode deixar que eu mesmo procuro. Ele conversava assim ele era mais liberal né. (MACEDO FILHO, 2007).
De acordo com o relato, o Gen. Mascarenhas, não era muito exigente no aspecto hierarquia, pois ele poderia mandar alguém chamar o capitão, mas não fez. Foi perguntado se o general era muito burocrático com relação às exigências. “Não. Não era não. Ele podia mandar chamar né. Falava, ia lá chamava” (MACEDO FILHO, 2007).
No cotidiano de uma guerra, também há que se ressaltar sobre a qualidade dos alojamentos: “Nós usamos barracas, depois ocupamos prédios também.-pausa- tinha local, pra dormir tinha sempre lugar. Não, cada um dormia no seu canto” (MACEDO FILHO, 2007). Tinham de dormir cedo, porque havia perigos. O entrevistado continua: Dormia, a noite tinha que deitar cedo porque –pausa- era perigoso andar a noite. Um colega meu, chamado Valter, ta ali naqueles retratos que eu tenho ali, ele foi andar de noite lá, eles assassinaram ele lá. Então andar de noite era perigoso (MACEDO FILHO, 2007).
Sobre o meio de transporte mais utilizado, o entrevistado relata: “O meio de transporte mais utilizado em via terrestre pelos soldados era o jeep. O jeep do General Mascarenhas, Liliana –o nome do jeep- eles tinham uma espécie de trava na vertical passavam arame farpado na estrada, então eles colocavam isso aqui –ele sinalizou- na frente, rebentava o arame. Proteção. Degolava.”(MACEDO FILHO, 2007).
O arame farpado servia para degolar quem passava, razão pela qual usavam a trava nos veículos para se proteger, senão havia o risco de serem degolados.
Outro carro muito utilizado foi o dodge, utilizado como ambulância.
Dodge – pequena pausa – tinha a camionete dodge. É um Carro Comando que chamava –afirma- Tinha uma ambulância assim ó –gesticula-. Era chamado também Carro Comando. Não. Digo dodge. Tinha o Carro de Comando dodge, e tinha ambulância, dodge. (MACEDO FILHO, 2008).
Carros como o jeep e o dodge foram largamente empregados na guerra devido ao seu potencial de tração em terrenos íngremes, tendo que circular muitas vezes em terrenos com estradas precárias ou até mesmo em trilhas.
Outro ponto interessante na reflexão sobre o cotidiano dos soldados brasileiros diz respeito à sua alimentação, tendo em vista que a maioria dos italianos à época da guerra passavam fome: “A comida era americanizada, mas era mais ou menos tudo que a gente tava acostumado, muita verdura, muita fruta, doce.” (MACEDO FILHO, 2007).
De acordo com o entrevistado, os soldados da FEB não sofreram com a fome:
Tinha muita fartura, tinha comida feita na cozinha e tinha comida enlatada e tinha um pacotinho também pra gente usar no bornal, se não pudesse chegar na hora da comida ou qualquer coisa, tinha reserva lá, tinha ração C, B e C. (MACEDO FILHO, 2007).
Compreende-se, portanto, que a falta de comida então não era motivo de transtornos para o Exército, pois isso não ocorria. Mas para os civis italianos a realidade era diferente: “Ah, sempre sentia né. A gente achava sempre uma pessoa clamando da vida, a gente ficava com dó né”. (MACEDO FILHO, 2007).
Com relação ao socorro aos feridos, o entrevistado relata: “Tinha pelotão de saúde, tinha batalhão de saúde.” (MACEDO FILHO, 2007). Para tais procedimentos, haviam sempre um protocolo estabelecido: Tudo, levavam a pessoa que era ferida, qualquer coisa, logo eles encaminhavam pros prontos socorros né. Posto avançado, quando era competência deles, eles mandavam pro hospital regional, tinha hospitais lá (MACEDO FILHO, 2007).
De acordo com a perspectiva de Moraes (1960), uma das funções dos Órgãos Não-Divisionários, no qual se inseria o batalhão da saúde, era de encaminhar os doentes e feridos graves aos Hospitais Americanos e suas Seções Anexas Brasileiras (Neuro-Convalescente, General Station e Evacuation Hospital).
Nota-se que, tanto na perspectiva de Macedo Filho (2007) quanto nos relatos de Moraes (1960) existe menção à preocupação quanto ao socorro aos feridos e doentes.
O respeito aos adversários também acontecia na guerra: “Eles –os alemães-, também quando pegavam os nossos feridos. Eles davam, davam assistência. Só que os nossos feridos, era operados com anestesia. E os alemães sem anestesia, porque eles não tinham, os alemães” (MACEDO FILHO, 2007).
O entrevistado não atribui o fato de operaram combatentes aliados sem anestesia à maldade, mas porque “não tinham anestesia.” (MACEDO FILHO, 2007).
De maneira oposta, os brasileiros davam tratamento adequado aos adversários feridos capturados: “As enfermeiras relatavam inclusive que os alemães pediam pra ir pro hospital dos brasileiros. Eram muito bem tratados.” (MACEDO FILHO, 2007)
Também eram feitos procedimento quanto aos mortos em campo de batalha, sobre esse aspecto, Macedo Filho (2007) afirma o seguinte: “Enterravam (...) antes nós começamos perder algum soldado lá, até em desastre tinha que enterrar no cemitério americano, depois nós organizamos o cemitério brasileiro em Pistóia. No cemitério também tinha uma quadra pra aliados, pra inimigos”.
Devido à violência de alguns combates da Segunda Guerra Mundial, os mortos não eram sepultados e os corpos ficavam espalhados e acabavam apodrecendo sobre a superfície (LEÃO; FELDHUES, 2008). Contudo, nos combates aos quais a FEB atuou não houve essa ocorrência, de acordo com os conhecimentos do veterano: “Não, não vi isso não. “A Guerra já tava mais ou menos do meio para o fim né” (MACEDO FILHO, 2007).
De acordo com Macedo Filho (2007) os civis encaminhavam e enterravam os corpos, pois, tinha cemitério municipal na localidade.
Macedo Filho (2007) afirmou que os combates mais intensos aconteciam à noite: “Não, eu não vi violência extrema, esses combates são mais a noite né.” E afirma não ter visto civis mortos: “Não. Nunca vi, abater civil eu nunca vi.” (MACEDO FILHO, 2007).
Segundo Macedo Filho (2007), os combates foram feitos com armas de tiro e bombas, não houve guerra química, nem por parte dos alemães nem dos brasileiros.
Não. Não houve porque em 1914 na Grande Guerra o Hitler era cabo do Exército alemão e ele foi atingido pela guerra química, então ele não usou a guerra química. Nós tínhamos equipamentos para guerra química e tudo, máscaras, luvas, botas, tudo, mas não usamos não (MACEDO FILHO, 2007).
Observa-se que os brasileiros foram precavidos com equipamentos de defesa: “Tinha sim, tinha equipamento, esperava que eles usassem, mas nunca foi usado” (MACEDO FILHO, 2007). Assim como os aliados não usaram. “Não. Não chegou a lutar com esse material químico não, tinha ele de reserva né” (MACEDO FILHO, 2007).
Sobre os alvos dos alemães, Macedo Filho (2007) afirma o seguinte:
Eles chegavam ocupavam geralmente as fábricas, essas coisas assim, e se tava fazendo uma rodovia, brigavam pra fazer outra que beneficiasse o Exército deles. Isso os americanos faziam, todos os paises faziam isso. Nos Estados Unidos a General Motors por exemplo que era uma grande fábrica de automóveis, passou a fabricar canhões e armas tudo, durante o período da guerra não teve produção de carro, só em 1946 é que teve uma remessa de caminhão né.
Os alemães não tinham alvos específicos. “Ocupavam tudo e usavam a infra-estrutura da cidade em seu benefício. Não tinham a mania de destruir não.” (MACEDO FILHO, 2007). Quase sempre a destruição das cidades acontecia em virtude de combates violentos que se estabeleciam. Dentre as poucas cidades que Macedo Filho viu totalmente destruídas está a cidade de Cassino, assim descrito:
Sobre a batalha em Cassino é feito o seguinte relato:
Os americanos levaram 3.000 aviões em Cassino, uma cidadezinha do tamanho de Campos Altos, em cima do morro, tinha um observatório, um convento dos padres, esqueci a congregação lá, era um dos fadres né, eles tinham a morada deles lá no alto da serra, os alemães usaram aquilo pra servir de observatório deles lá de cima de Monte Cassino eles viam a planície toda lá embaixo onde nós ficávamos né (MACEDO FILHO, 2007).
Ainda, em seu depoimento, Macedo Filho frisa com clareza de detalhes como se deu a destruição da cidade de Cassino, ao que atribui à invasão alemã:
Então os americanos intimaram os alemães, a abandonar o Monte Cassino, senão eles iam destruir e eles não acreditaram né, como fizeram em Roma, os americanos declararam Roma uma cidade aberta, não podia ter tiroteio, era cidade histórica, cidade aberta. Os americanos ameaçaram bombardear e declaram uma cidade aberta, mas os alemães não acreditaram. E os americanos bombardearam lá, 8, 10 minutos mataram 20.000 pessoas no bombardeio, então eles viram que os americanos quando promete faz, não esconde não. Então eles tiveram isso, viram que o americano não mente, quando foi em Cassino foi a mesma coisa, os americanos avisaram, mandou mensagens lá pros alemães que desocupassem Cassino, eles não aceitavam os alemães usando aquele prédio lá da igreja pra levar vantagem né, e eles não acreditaram nos americanos. Eles mandaram 3.000 aviões em um dia e bombardearam Cassino, mas arrasou. (MACEDO FILHO, 2007).
A cidade ficou totalmente destruída? “Foi totalmente destruída” (MACEDO FILHO, 2007). Dessa forma morreram vários civis, porém as tropas alemãs abandonaram a região que lhes dava ampla vantagem sobre as tropas americanas (observatório).
As tropas alemãs saíram de lá né, uns morreram, outros saíram né, mas algum morreu também né. Os americanos quando eles falaram que ia fazer a ofensiva da primavera eles, falaram que o objetivo era Bolonha, uma cidade grande que tem lá no norte, e os alemães falaram, ah eles tão falando que vai pra li, nós vamos pra cá, pro outro lado, mandaram reforço pro outro lado. Eles não ficaram lá antes do inverno, mas não deu pra fazer não, já falaram lá o seguinte, que os americanos não queriam ocupa-la antes do inverno porque senão tinha que tratar de 1.000.000 de habitantes. Tinha que dar comida pra 1.000.000 de habitante, então eles esperaram passar o inverno e tudo, logo depois a Guerra acabou (MACEDO FILHO, 2007).
As tropas brasileiras percorreram diversas regiões da Itália, porém, não ficavam em uma cidade por mais de dois dias (a menos que houvessem batalhas ou adversidades climáticas), conforme relata o entrevistado:
Macedo Filho (2007) ainda descreve sobre a região de Zocca:
Em Zocca, eu passei lá de passagem né. Zocca caiu, na véspera. No dia seguinte eu passei lá de passagem. Então eu fiquei conhecendo. Zocca é um lugarejo cidade pequena né. Mais eu passando. Foi pra frente, cada dia tava num lugar né. Nós paramos muitos dias. Muito tempo foi em Pisa. Lá em Pisa, nós passamos o inverno todo em Pisa, nós ocupamos uma, uma fábrica. Tipo uma olaria –pausa- uma cerâmica. E de lá, passamos o inverno todo lá. Quando terminou o inverno. É que nós começamos a reativar os combates né. Porque naquele período de inverno...nós ficávamos mais fazendo só, artilharia, essas coisas assim. Mas combate mesmo não tinha né. É muito intenso o inverno né. Tinha um metro e vinte de neve (MACEDO FILHO, 2007)
O entrevistado ainda descreve sobre algumas outras cidades italianas, nas quais aconteceram combates envolvendo as tropas brasileiras:
Mazzarozza, Camaiore, Monte Prano, Fornacci, Galicano, Barga, San Quirico, Monte Cavalloro, Monte Castello, Santa Maria Villiana, Castelnuovo, Montese, Paravento, Monte Mailo, Rivela, Zocca, Formigine,Collechio, Castelvetro, Fornovo –leu- essas nós conquistamos nas armas, teve outras cidades que nós fomos a passeio. Depois que terminou a Guerra, nós passeamos em diversas cidades da Itália. (MACEDO FILHO, 2007).
De acordo com Moraes (1960) as vitórias conseguidas nas cidades de Monte Castelo e Castelnuovo constituem um marco de transcendente significação nos anais da História Militar brasileira e, mostram como as tropas brasileiras atuaram de forma decisiva para a resolução do conflito naquelas regiões.
De acordo Henriques Neto (2008), as tropas da FEB padeceram sob o inverno rigoroso da Itália. Para Macedo Filho (2007), o inverno não provocou tamanha dificuldade:
Não era tanto assim não, porque durante o período de inverno era só patrulhas. As patrulhas saiam sempre a noite. Faziam patrulhamento pra ver onde é que tava o inimigo. Pra onde era a tendência deles, pra onde eles iam, e informava pros –pausa- nós tínhamos, o esquadrão de reconhecimento, o esquadrão de reconhecimento não dava trégua, os alemães fugiam toda noite 20 a 30 quilômetros. E o esquadrão de reconhecimento dava noticia deles. O esquadrão de reconhecimento era muito prestativo nesse ponto (MACEDO FILHO, 2007).
Com as dificuldades do inverno não haveria tanta violência na Guerra e dessa forma, na visão do entrevistado não houve tanto sofrimento das tropas brasileiras quem em sua maioria ficavam mais recolhidas nesse período. “No inverno, era mais reservado, era menos movimento, era só artilharia e patrulhas, só patrulhas” (MACEDO FILHO, 2007). Apesar disso, não descarta que as adversidades do tempo, contribuíam para aumentar o estresse entre os combatentes.
Macedo Filho (2007) ressalta que talvez a maior adversidade climática enfrentada pelas FEB foi ocorrida na batalha que culminou na tomada de Montese.
O ataque brasileiro em 14 de abril de 1945 compreendeu duas fases bem distintas: a primeira consistiu no lançamento de fortes patrulhas, constituídas de pelotões reforçados para o reconhecimento da área. A violenta preparação da artilharia brasileira, deu a impressão que fora desencadeado o ataque. A reação do inimigo brotou rápida, instantânea e com enérgica disposição (MORAES, 1960, p. 174)
Moraes (1960) ainda descreve que, no dia 14 de abril de 1945 seguiram-se fortes ataques de ambos os lados, sendo que, em todos eles, os blindados americanos avançavam mais em direção à cidade de Montese. Mesmo assim, os inimigos permaneceram inflexíveis .
A infantaria atacante, finalmente, enfrentou e superou obstinada resistência inimiga, concretizada por um sistema de fogos bem organizado e ajustado ao terreno, conseguindo, depois de grandes esforços e fortes baixas, atingir, em fim de jornada a linha geral maserno e com isso, o domínio de Montese (MORAES, 1970, p. 175)
Como exercia funções de intendência, Macedo Filho, não participou diretamente das operações de tomada de Montese, contudo, seu depoimento complementa os relatos de Moares (1960, ao descrever a situação da cidade de Montese, após o combate:: “Vi, passei lá. A cidade tava toda furada de balas” (MACEDO FILHO, 2007).
Macedo Filho (2007) relata que, ao entrar em Montese presenciou prédios em ruínas, muros quebrados e casas totalmente destroçadas em virtude dos bombardeios ocorridos na conquista da cidade. O entrevistado ainda relata sobre a batalha e a quantidade de mortos naquela cidade:
Montese foi o Onzeri, que ocupou. Até o general, que hoje é general. Ele era primeiro tenente. Eu esqueci o nome. Eu tou esquecendo muito as coisas agora. Ah, é O’reily. Ele é que atacou Montese. Com quarenta e uma pessoas. Voltaram dezessete. Então. Mais de 50% por cento morreu. Então ele –o general- conta que foram revidar o ataque. E ele foi jogado a distância de –pausa- Morteiro né, uma bomba de artilharia. Ele foi jogado a 10 metros de distância. Quando ele recuperou o sentido. Foi olhar os mortos só viu dois vivos. Não viu os outros uns tinham morrido, outros desaparecido. Outros tava ferido né (MACEDO FILHO, 2007)
Segundo ele, naquela ocasião eram usados uniformes especiais no frio.
Não só em Montese, mas em toda região. Tinha um equipamento assim. Branco, todo branco, pra despitar porque, se não fosse branco os alemães via né. Era mais pra despistar. –quase riu- de branco em cima da neve, ficava tudo branco.-quase riu- (MACEDO FILHO, 2007).
Moraes (1960) também descreve sobre a situação da FEB diante do inverno europeu:
A partir de 13 de dezembro de 1944 a temperatura passou a descer visivelmente, chegando a dezoito graus abaixo de zero. Tropical, tendo vivido em um país de grandes planícies e de temperatura amena, o soldado brasileiro, apesar disso, cedo de adaptou ao rude inverno dos píncaros apenidianos (MORAES, 1960, p. 125).
Apesar de Moraes (1960) descrever que as tropas brasileiras se adaptaram facilmente ao clima europeu, Macedo Filho (2007) apresenta outra versão, relatando nomes de soldados que tiveram sérios problemas com o frio. Ele fala sobre o rigor do inverno e de como eram as roupas. “Lá nós chegamos a atingir 20 graus, abaixo de zero. A roupa era de acordo né. Nós tínhamos roupa de acordo.” (MACEDO FILHO, 2007). Mas com um frio dessa intensidade, mesmo com os agasalhos, a roupa não protegia os soldados do frio intenso, conforme relata o entrevistado:
O Sebastião teve. Ele congelou os pés né. Ele. Ficava numa trincheira. Num buraco. Era do front. Ele era combatente né. Ele era combatente. E aquele buraco chamava. Os americanos chamavam de fox rauly, -pausa pequena- buraco da raposa. A gente ficava naquele buraco. E às vezes ficava um dia, ou mais de um dia. Sem poder sair né. Porque os alemães dava rajada, de metralhadora né. Se bobiasse –ele riu- eles cortava o pescoço dele com um tiro né. Então o Sebastião Leandro, ficou com o pé congelado. E eles mandaram ele pros Estados Unidos, para cortar a perna. Chegou lá nos Estados Unidos, eles conseguiram. Deu um jeito nele lá e devolveram ele pra trás com os dois pés. Ele veio morrer aqui de outras coisas. De outros problemas (MACEDO FILHO, 2007)
Sebastião era um dentre os três soldados da cidade de Campos Altos/MG (de Candeias/MG foram quatorze). Ele morreu depois no Brasil (desconhecendo-se as causas): “Não era tanto de velhice, que ele era mais ou menos da minha idade. Ele já morreu, muitos anos né” (MACEDO FILHO, 2007).
Nas palavras do Macedo Filho, com o inverno intenso, os ataques diminuíam de ambos os lados. O intendente relata:
Parava. Parava de noite tinha umas patrulhas. Tinha os –pausa- era só mesmo a artilharia. E depois quando veio o inverno, tinha onde nós fizemos a campanha né. Depois tinha outro destino né. Era Florença. Florença não Bolonha. Nós tivemos em Florença, o V Exército, era em Florença, e o nosso objetivo era atingir Bolonha. Para atingir Bolonha, tinha que passar pelo, Monte Castello. E o Monte Castello era uma elevação muito alta. E os alemães, tinham aquela máquina de cimento, de concreto. E a gente teve lá (MACEDO FILHO, 2008)
Em Monte Castelo, as tropas brasileiras tiveram muitas dificuldades, no combate, no entanto, a FEB recebeu apoio do Exército americano. Segundo o depoimento de Moraes (1960), as reações inimigas na cidade se deram de forma enérgica e crescente, o batalhão comandado pelo Major Uzeda, defrontou alguns pontos fortes alemães. No caso, a defesa alemã era baseada em três flancos: Belvedere, Gorgolesco e Castelo. Conquistar esses pontos era uma tarefa muito difícil para apenas uma divisão. Portanto, somente se conseguiria o domínio da cidade de Montese com a chegada de mais uma divisão, a 10ª Divisão de Montana.
Nos relatos de Moraes (1960), nota-se que o marechal foca sua descrição na tática de guerra das batalhas, como os soldados faziam para reconhecer o terreno em cada cidade e como procediam no avanço das tropas e nos bombardeios. Ele relata da seguinte forma a batalha que procedeu o domínio de Monte Castelo:
Iniciou-se o ataque americano no dia 19 de fevereiro de 1945 às 23 horas. Graças à ação da 10ª Divisão de Montana foi tomado o Monte Belvedere e, em seguida, conquistou-se o Gorgolesco, uma vez dominados os flancos de Belvedere e Gorgolesco, a intervenção brasileira iria desfechar um golpe mortal sobre Monte Castelo e, em 21 de fevereiro conquistaram a cidade (MORAES, 1960, p. 137)
Ainda relatando sobre a batalha de Monte Castello, Macedo Filho (2007) afirma que:
Tivemos também apoio da 10º divisão de montanha do Exército americano. E nós tínhamos tentado duas ou três vezes e não tinha conseguido. Só baixa, baixa, baixa, e depois com a ajuda da décima divisão de montanha que era a tropa especial. Que era a Guerra de montanha né. Nós tivemos um emparelhamento com eles lá e conseguimos né. Foi duro porque de cima eles viam a região toda. Além disso, tinha uns calhamaços de cimento, tinha concreto. Eles tinham observatório, muito bom. Muita munição lá em cima, lá eles atiravam, podia ver as pessoas subir né, eles –os alemães- ficavam lá esperando né. Ficavam numa distância. Então nós tivemos um bombardeio, né. O bombardeio, começou de madrugada (MACEDO FILHO, 2008)
Foi uma batalha difícil, sendo necessário o apoio da aviação. Nesta questão, foi perguntado ao entrevistado se houve auxílio da artilharia da FEB. Ele respondeu:
É da FEB. Artilharia é pra nós né. Nosso Exército a maioria era de infantaria né. Era gente a pé. E a artilharia era uma divisão. Uns grupos de artilharia. Uns dois ou três grupos de artilharia. Então nós fizemos um bombardeio de artilharia. Tinha bombardeio de aviação também (MACEDO FILHO, 2007).
A vitória em Monte Castelo foi uma das mais difíceis e mais importantes para as tropas brasileiras.
Moraes (1960, p. 140) afirmou que “tirando partido da precisão e violência da artilharia do General Cordeiro Faria, o ataque brasileiro redobrou de fúria e impulsão, tendo em vista a conquista de Monte Castello”.
Percebe-se, portanto, na associação entre o depoimento de Macedo Filho (2007) e a obra de Moraes (1960) que a batalha de Monte Castello foi agressiva, sendo decidida por meio do apoio conferido pela artilharia da FEB e também pela 10ª Divisão de Montana.
Segundo Castro, Izecksohn e Hendrik (2004). A partir daí, os nazistas seriam derrotados em diversas outras cidades italianas.
A batalha de Monte Castelo destaca a participação da aviação de caça brasileira:
A batalha de Monte Castelo teve grande participação da FAB. Mas a FAB nesse tempo lá, só tinha um grupo de caça. Era aviação de caça, não era de bombardear não. Era de caça, mas eles levavam bombas nos aviões de caça e jogavam as bombas. Em cima de estrada de ferro, ferrovia, ponte. A nossa missão mais era destruir as pontes para evitar o acesso dos nazistas. (MACEDO FILHO, 2007)
A aviação de caça fazia também o papel de bombardeio, mas não era especificamente de bombardeio. Porque o avião de bombardeio era muito maior. Muito mais equipado, “O avião da FAB levava duas bombas só, ele enchia os aviões né – ele riu –“ (MACEDO FILHO, 2007). E continua explicando sobre os aviões da FAB. “Ele soltava duas bombas e ia embora. Então as estradas de ferro, ponte, essas coisas. Mais, era fábrica. Onde tinha fábrica também. A fábrica que fazia qualquer coisa pra ajudar na Guerra né. Então tinha que destruir as fábricas né” (MACEDO FILHO, 2007).
Pelo depoimento de Macedo Filho, a FAB fez uma participou como força de apoio, através dos caças, pois a FAB não tinha aviões de bombardeio como os americanos e ingleses.
Era, dos americanos. Americano e inglês né. Os ingleses eram mais especialista em artilharia né. Os portos, eram todos ocupados, pelos ingleses. Nós ocupava um porto, uma coisa assim. No dia seguinte, o governador militar era inglês. Tinha inglês para assumir o comando. Chegava tipo em Campos Altos. Ocupou o Campos Altos, amanhã tinha, um inglês lá para comandar. Era o governo militar aliado. Lá –na Itália- eles botavam uma placa lá nas casas –ele riu- a casa ficava ocupada militarmente. O dono não tinha direito a nada né (MACEDO FILHO, 2007)
De acordo com o relato, era atribuição dos ingleses ocupar e administrar as cidades. Sobre o efetivo da FEB e da FAB o intendente relatou: “O nosso efetivo do Exército era mais ou menos 25 mil homens. Da FAB era uns 50 e poucos. Só os oficiais da FAB.” (MACEDO FILHO, 2008).
Foi perguntado se teria a FAB lutado com o mesmo rigor que a FEB: “Lutou, mas as missões eram diferentes né. Era mais fácil, porque eles voavam né. E nós ficava a pé né. O nosso era a pé não tinha jeito né – ele riu-.” (MACEDO FILHO, 2008). Observa-se que a luta para a FAB era mais fácil porque eram de aviões. Já os combates por terra eram mais difíceis, pois os combatentes da FEB tinham que entrar e ocupar as cidades: “A gente tinha que entrar lá né. Botar eles –os adversários- pra correr né. Combater de dentro da rua né. Nosso Exército se especializou em combate de rua né. De cidade, a FEB” (MACEDO FILHO, 2008).
Macedo Filho conta que mesmo em meio a uma Guerra ainda havia, entre os soldados, tempo para descontração: “Eles apelidavam os carros. Até o carro do Gen. Mascarenhas tinha o nome da neta dele. –riu- Eu esqueço agora o nome” (MACEDO FILHO, 2007).
Também costumavam colocar nomes nas metralhadoras dos nazistas, sendo popularizada “A Lurdinha”. “ A lurdinha era a metralhadora – ele riu muito- Era uma metralhadora pequena, uma sub-metralhadora. Tinha apelido de Lurdinha. Era dos alemães.” (MACEDO FILHO, 2007).
Conforme pode ser percebido, são nos depoimentos orais de pessoas que vivenciaram diretamente o conflito que podem ser descobertas diversas estórias particulares na reconstrução da história da Segunda Guerra Mundial.
Macedo Filho (2007) afirma que os combatentes aliados tinham muito respeito pelo armamento alemão. O termo “Lurdinha” apesar de engraçado, não visava depreciar a arma. Segundo o entrevistado a arma era: “Boa, muito boa, o armamento alemão era muito bom, porque eles se especializaram naquilo né” (MACEDO FILHO, 2007).
Porém, segundo Macedo Filho (2007), os alemães não tinham a mesma admiração pelo armamento dos aliados. Por exemplo, a principal metralhadora utilizada, a ponto 50, tinha a seguinte descrição na visão dos alemães:
A ponto 50, não. Os alemães não gostavam da ponto 50 não. Os alemães renegavam a ponto 50. Diz eles, que aquilo não era metralhadora pra usar em gente não. Que aquilo era pra matar animais. Por que era meia polegada. Era meia polegada. A polegada são mais ou menos dois centímetros e meio. Então a ponto 50, é um ponto dois e meio né. (MACEDO FILHO, 2007)
Macedo Filho (2007) afirma que a ponto 50 também era uma arma: “Boa. Muito pesada grande, né. Antiaérea. Ela abatia avião né.”(MACEDO FILHO, 2007).
A FEB usou muito a ponto 50, pois era usada nos combates: “Quando atirava com a ponto 50, os alemães levantavam a bandeirinha branca logo né, é –pausa- eu fiz parte do pelotão de defesa do Quartel General. Lá era quatro ponto 50” (MACEDO FILHO, 2007).
Macedo Filho (2007) afirma que, durante o ano que serviu como intendente, aprendeu muito sobre estratégias de guerra. Ele avalia que o erro do Hitler foi ter atacado a Rússia. Se ele insistisse em dominar a Inglaterra ele teria vencido a Guerra” (MACEDO FILHO, 2007).
No entanto guerra é sempre guerra, e há muita violência. O Brasil, mesmo tendo participado de 1944 a 1945, não deixou de sofrer baixas.
4.3 O intendente após a guerra
Todos os exércitos inimigos remanescentes, impossibilitados de prosseguir na luta, resolveram entregar-se no dia 02 de maio de 1945 (MORAES, 1960). Com isso dava-se por encerrado o conflito que durou quase seis anos, contudo, as tropas ainda permaneceram em território italiano ate´25 de junho de 1945 a partir de quando o general Mascarenhas de Moraes passou a fixar normas para o retorno das tropas ao Brasil
As tropas brasileiras retornaram para o Brasil no navio General Meigs, chegando ao Rio de Janeiro em 18 de julho de 1945 (MACEDO FILHO, 2007).
No Rio de Janeiro os soldados da FEB foram recepcionados com grande festa e receberam honrarias ao mérito. Moraes (1960), assim descreve a chegada ao Brasil:
Todos os escalões da FEB foram recebidos pela população carioca entre delirantes demonstrações de júbilo e ao calor apoteótico das ovações. Jamais a metrópole brasileira viveu momentos de maior exaltação patriótica. A capital brasileira se engalanou para receber, num espetáculo de civismo e reconhecimento, os expedicionários do Brasil e o grupo que representava a valorosa 10ª Divisão de Montana (MORAES, 1960, p. 245)
Contudo, na visão de Macedo Filho (2007) logo foram esquecidos após a baixa do serviço militar. “Eu quando dei baixa era segundo sargento, hoje sou segundo tenente”. Após regressar ao Brasil dedicou-se ao comércio, tendo aposentadoria especial por ser ex-comabatente, contudo, nunca necessitou da carteira de reservista para conseguir emprego, a qual lhe motivou toda a jornada Brasil – Itália.
Atualmente, Macedo Filho é colecionador de objetos da Guerra, tem alguns livros e DVD, que a FEB oferece, aos veteranos. Entre outras atividades participa de intercâmbios constantes com pessoas do Brasil e de outros países, que tenham interesse em conhecer o relato de combatentes da FEB na Segunda Guerra Mundial. Neste aspecto, o entrevistado relata:
Os rotarianos vieram aqui, fazer um intercambio né. E um deles era professor de História. Ele ficou aqui, nós demos um lanche aqui para ele né. De noite e eles ficaram conversando aí, eu contei que tinha ido na Guerra. Ele não sabia que o Brasil tinha ido na Guerra. Não sabia, não. Então eu disse o senhor é professor de História, e não sabe dessa História. Ele disse que não sabia, porque lá eles ficavam preocupados com a libertação da França né. Então não tomaram conhecimento (MACEDO FILHO, 2008)
Observa-se que a participação do Brasil ocorreu no norte da Itália. Talvez seja esse o motivo de o professor francês não ter conhecimento da participação brasileira no evento. Diante desta constatação, Macedo Filho parece ter ficado chateado. Cabe aqui ressaltar que esse desconhecimento soa como descrédito ao papel desempenhado pelo Brasil na Segunda Guerra.
Frente ao desconhecimento do professor francês, o entrevistado procurou relatar uma pouco da história da participação da FEB na Segunda Guerra Mundial:
Falei antigamente nós íamos na França pra poder, aprender as coisas agora inverteu né. Os franceses vem aqui. O professor de História não sabe tinha disco. Ele pediu pra passar né, o disquete, eu passei o disquete. Depois lá no Rotary, na reunião festiva. Eles nos agradeceu por ter libertado a França. –pausa- então na reunião seguinte eu fiz uma outra fala. Dizendo que diretamente nós não libertamos a França. Porque nós não combatemos na França, porque nós. Nós preparamos o terreno. Nós ficamos ocupando a Itália. O V Exército foi montado lá na África. Combateu o Von Romer. Era a “Raposa do Deserto”. Depois de vencer o Von Romer. O Exército foi transferido para a Itália. Enquanto missão de atrair as divisões alemãs, na Itália. Então aí, tinha o V Exército pra lá e as divisões alemãs, todas as disponíveis foi pra Itália, pra combater o V Exército. E ai aliviou a pressão sobre, a França, a França tava ocupada né. Paris foi ocupada em três ou quatro dias (MACEDO FILHO, 2007)
Segundo Macedo Filho (2007), o Brasil não lutou diretamente na França, mas sua participação na Itália teve reflexo na França, então ocupada pelos Nazistas. O entrevistado continua seu relato:
Então, quando nós mudamos o V Exército pra Itália, as divisões ficaram em combate na França. Os alemães foram combater o V Exército. Enquanto eles foram combater o V Exército os americanos foram pra França. Usaram 11 mil embarcações. Não sei quantos mil, aviões. Noticiaram o desembarque de 200 mil pessoas. A França recuperou, em dois três dias também recuperou (MACEDO FILHO, 2007)
Ao longo do depoimento Macedo Filho não demonstrou ter tido significativos traumas. Em todos os momentos da entrevista manifestou serenidade, ressaltando a importância do Brasil na guerra. Contudo, em alguns momentos afloraram também lembranças tristes que marcaram o ex-combatente no conflito. Entre tais lembranças destaca-se a morte do amigo Valter Pereira.
Valter Pereira foi um dos colegas de Macedo Filho morto na Itália, mas não em combate. Provavelmente teria sido morto por civis italianos que o confundiram com inimigo. “Os partiggiani, era os que lutavam do nosso lado né. Partiggiani – falou lentamente.” (MACEDO FILHO, 2007). Os partiggiani referem-se aos italianos que apoiavam as tropas aliadas e que, provavelmente, teriam sido os responsáveis pela morte de Valter Pereira.
Também foi feita uma pequena reflexão sobre outros combatentes da FEB residentes na região de Luz/MG. De Bambui/MG, mencionou Manuel Ferraz (já morto). Frizou também José Chaves do qual não sabe se ainda é vivo (MACEDO FILHO, 2007).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta monografia teve por objetivo analisar como o depoimento de um soldado se relaciona com o depoimento de outros soldados dentro da natureza de um mesmo espaço, específico ao cotidiano de atuação da Força Expedicionária Brasileira. Ao se relacionar os depoimentos de Leônidas Macedo Filho com os relatos contidos na obra do Marechal Mascarenhas de Moraes, nota-se que, Leônidas Macedo Filho apresenta uma perspectiva individual (seu ponto de vista sobre a guerra), enquanto a obra de Mascarenhas de Moraes apresenta uma visão mais geral, sob uma perspectiva coletiva das tropas brasileiras.
Ao relacionar ambos os relatos, nota-se que eles complementam-se e permitem a construção de conhecimentos mais amplos sobre determinados detalhes da guerra. No caso de Macedo Filho, ele apresenta um depoimento de guerra visto sob o olhar de um intendente, ou seja, um pracinha que não participou do front, mas que interagiu com os combatentes. Por sua vez, Mascarenhas de Moraes foi o comandante das tropas brasileiras e, o responsável por articular táticas de guerra para o domínio de flancos inimigos. Dessa forma, ambos narram o mesmo fato, porém sob posições diferentes, o que possibilita a apresentação de mais informações sobre os fatos transcorridos, e maior exatidão na compreensão do cotidiano da guerra.
Pode ser percebido que determinados pontos não são tratados por Mascarenhas de Moraes em sua obra sobre o cotidiano da FEB, principalmente no que se refere aos soldados sua interação no QG e no front, sua interação com os civis italianos e os equipamentos por eles utilizados. Esses aspectos são de natureza pessoal dos soldados e, na obra de Mascarenhas de Moraes é apresentada uma visão mais geral das tropas, principalmente com relação à tática de guerra. Nesse sentido, houve distanciamento entre ambos os relatos. Na obra de Mascarenhas de Moraes também não se encontrou nenhuma referência sobre o ataque ocorrido ao Porto de Nápoles do período de desembarque das tropas brasileiras, nem ataque das tropas inimigas ao QG da FEB.
Ambos os relatos também descrevem as adversidades climáticas que as tropas brasileiras enfrentaram com relação ao inverno europeu. A diferença na abordagem é que Mascarenhas de Moraes afirma que a adaptação das tropas de deu facilmente, enquanto Macedo Filho ressalta que houve sofrimento por parte dos soldados com relação ao frio, citando, inclusive casos de congelamento.
Por outro lado, pode-se perceber aproximação entre os relatos no que se refere ao processo de recrutamento e treinamento das tropas no Brasil, quanto à viagem para a Itália, quanto ao processo de treinamento das tropas em solo italiano e também maiores evidências sobre o processo de conquista de cidades italianas dominadas por tropas inimigas. Nesse último aspecto, destaca-se como os relatos complementam-se e facilitam o entendimento sobre como ocorreram batalhas em cidades como Monte Castelo e Montese bem como a situação física das cidades após os combates. Tais fatos permitem apontar que o objetivo proposto nesse trabalho foi atingido.
O problema do qual se partiu nesse estudo foi: até que ponto o depoimento do intendente pode contribuir para elucidar sobre as características do cotidiano de atuação da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Ao término do trabalho, pode-se obter como resposta a essa pergunta que, apenas o depoimento do intendente em si, não contribui para entender o cotidiano da guerra, porém quando este depoimento é comparado a outros relatos, é possível compreender com mais exatidão sobre fatos acontecidos durante a guerra e que marcaram o cotidiano das tropas brasileiras na Itália.
Por sua vez, ressalta-se sobre a importância de que trabalho para a reconstrução e a releitura do passado. Por fim, sugestiona-se que outros ex-combatentes sejam entrevistados com o intuito de conhecer com mais detalhes o cotidiano da Segunda Guerra Mundial, o que pode contribuir para a preservação da memória de soldados da FEB.
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