MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO SECRETARIA-GERAL DO EXÉRCITO
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO EXÉRCITO (C DOC EX/1973)
A ATUAÇÃO DA FEB NA ITÁLIA
Cumpriremos a tarefa de dissertar sobre os feitos da FEB nos campos da Itália, dividindo nossa palestra em quatro tópicos.
Inicialmente, veremos os Pródromos da Guerra. A seguir abordaremos a Organização da FEB, para passarmos à atuação de nossa Força nas quatro fases por ela vividas em solo italiano. Daremos um destaque especial aos combates de MONTE CASTELO e MONTESE para, finalmente, concluirmos.
A) PRÓDROMOS DA GUERRA
Ao final da década de 30, ideologias totalitárias se expandiam pela Europa.
Hitler denunciou os Tratados de Locarno e Versalhes, tachando-os de “diktat” – “ditado” e não tratado; e, sentindo-se espoliado em terras e em soberania, levantou a Alemanha para a derrubada daqueles Protocolos. Em seis anos de poder, de 1933 a 1939, preparou a nação germânica para a Guerra. Recuperou a Renânia e anexou a Áustria e os sudetos da Tchecoslováquia. Assinou com Stalin, em 1939, um pacto de não agressão e invadiu a Polônia através do corredor de Dantzig.
Os Aliados, após fracassadas as gestões diplomáticas, declararam guerra à Alemanha.
Em 1940, os alemães desfecharam a ofensiva aos Países Baixos que se renderam, contra a França que capitulou e à Inglaterra que sofreu sistemáticos ataques aéreos.
Ao tempo dessas ações, a Itália de Mussolini aliou-se à Alemanha e desencadeou operações militares contra a Grécia e a África. O Japão, em 1941, atacou a base norte-americana de Pearl Harbor, fazendo com que os EEUU, até então neutros, participassem do conflito.
Em vista do Tratado de Havana, de 1930, o Brasil solidarizou-se com os EEUU – país das Américas que havia sido atacado e rompeu relações com o Eixo.
Diante dessa atitude, não levou muito tempo para sofrermos as represálias do inimigo. Em sete meses, pagávamos o preço da solidariedade continental, hipotecada por força de Tratado: foram afundados 19 navios brasileiros, particularmente ao longo de nosso litoral. 740 vidas foram ceifadas, sem declaração de guerra, pelos torpedos de submarinos inimigos. O clamor público se fez sentir em todo um país de 40 milhões de habitantes, fruto de uma comoção generalizada.
Assim, é declarado, em 22 de agosto de 1942, o estado de guerra contra os países do Eixo, quando os exércitos inimigos venciam na África, Europa e Ásia, com os nazistas ameaçando Moscou. Estávamos em guerra...
Mister se faz, para que possamos compreender o esforço hercúleo dispendido pelo Brasil, naquela época, que recordemos o que era o nosso País quando da declaração do estado de beligerância.
Deixemos a palavra com o Gen Octávio Costa que escreveu, em 1975, valioso livro sobre a FEB, de título: “Trinta Anos Depois da Volta”:
“O Brasil continuava sendo o eterno país do futuro. Éramos uma nação extremamente pacifista, cujo Exército havia disparado seu último tiro, em 1870, nos campos do Paraguai. Desde o início da década de 20, aqui estava uma operosa Missão Militar Francesa, que montara, no Exército, o admirável sistema de ensino militar que responde pelo excelente nível cultural de nossos oficiais.
A organização, os regulamentos, os processos de combate, a doutrina, afinal, era francesa, fortemente impregnada de conceitos defensivos.
O armamento, de diferentes procedências. Os canhões eram alemães e franceses, Krupp ou Schneider 75, fuzil Mauser 1908, morteiro Brandt, Mtr Madsen ou Hotckiss – quase tudo viera da Europa, salvado na Guerra de 18. A Marinha de Guerra limitava-se quase exclusivamente, aos velhos e obsoletos encouraçados “Minas” e “São Paulo” e a Aeronáutica, ainda vinculada às forças de terra e mar, mal começava a nascer.
Esse era o Brasil de antes da guerra, contemplativo e pobre, pessimista e preguiçoso, inquieto e contraditório, marcado de preconceitos e complexos, às vezes visionário, quase sempre Jeca Tatu”.
Foi nesse quadro, nada alentador, que recebera nosso País a incumbência de preparar um Corpo de Exército de 60.000 homens (a 3 Divisões de Infantaria) para envio ao TO europeu e de continuar apoiando seus aliados, por meio de matérias primas e da utilização de bases aéreas, particularmente as do Nordeste – tão vulnerável após a conquista do Norte da África, pelos alemães.
Célere, 180.000 homens são mobilizados para a guerra. O saliente nordestino, em vista de sua grande vulnerabilidade, é densamente mobiliado por Unidades recém-criadas.
As dificuldades são enormes. Das três divisões de Infantaria anteriormente cogitadas, nosso País consegue armar e adestrar, a duras penas, somente uma Divisão.
Os agentes da quinta-coluna desencadearam violenta campanha contra a FEB. Eram tempos de super-valorização do que era alienígena – tempos de se cantar tangos e boleros, de se admirar o que era francês e norte-americano. Nos estados sulinos existiam quistos raciais, favorecendo as ações pangermanistas. Havia cidades em que até o ensino era ministrado em alemão. O Reich Nazista estimava contar, no Brasil, com novecentos mil simpatizantes de sua ideologia... Tudo isso facilitava a propaganda contra a FEB. Diziam que era mais fácil uma cobra fumar do que a FEB partir.
Mas a reação brasileira não se fez esperar: a própria cobra fumando, mote do desdém de apátridas, foi o símbolo de nossa tropa. O grande vate Guilherme de Almeida que já cantara em versos a terra paulista e a sua Bandeira, além da Revolução Constitucionalista de 1932, compôs a letra da “Canção do Expedicionário”, miscelânea de versos e trechos de autores nacionais de renome e das modinhas de então.
Foi finalmente constituída a Força Expedicionária Brasileira, para o desagravo da honra nacional e, em 09 Ago 43, era fixada a seguinte Organização:
B) ORGANIZAÇÃO DA FEB
- CMDO E EM: GEN DIV JOÃO BAPTISTA MASCARENHAS DE MORAES
- INFANTARIA DIVISIONÁRIA: CMDO E EM/ID GEN BDA EUCLIDES ZENÓBIO DA COSTA
1º RI – RJ
6º RI – CAÇAPAVA –SP
11º RI – SÃO JOÃO DEL REI – MG
- ARTILHARIA DIVISIONÁRIA: CMDO E EM/AD: GEN BDA OSWALDO CORDEIRO DE FARIAS
1º ROAR – RJ
1º GOAR – RJ
1ª/1º RA – RJ
2º ROAR – SP/SP
- ÓRGÃOS DIVISionários: COMDO E EM: GEN BDA OLÍMPIO FALCONIÈRE DA CUNHA
Esqd Rec Mec – RJ
Esquadrilha de Ligação e Observação da FAB – RJ (não confundir com o 1º G Av Caça do 350º G Av C – NA)
9º BECmb de Aquidauana – MT
1º BS – RJ
1ª Cia Transmissões – RJ
Tropas Especiais: Banda de Música, PE, etc
Efetivo total: 25.334 homens, (RJ: 6.094 h – SP: 3.889 h – MG: 2.947 h – Est RJ: 1.942 h – RS: 1.880 h – PR: 1.542 h – SC: 956 h – BA: 686 h – MT: 679 h – PE: 651 h – CE 377 h. Outros estados: menores efetivos, computados ainda, 25 capelães, 28 funcionários do Banco do Brasil e 67 enfermeiras.
C) Passemos agora à atuação da FEB, 3º Tópico de nossa palestra:
- Em 02 Jul 44, transportou-se, por via marítima, o primeiro escalão expedicionário; em 22 Set, partiu o 2º; em 23 Nov, o 3º, para, em 08 Fev 45, seguir a última leva de tropas, em 2 outros escalões.
Na Península Itálica quatro fases caracterizaram a nossa atuação:
1ª fase: Operações no vale do rio SERCHIO
2ª fase: Operações no vale do rio RENO
3ª fase: Operações no vale do rio PANARO
4ª fase: Operações de perseguição ao S do Rio PÓ.
À chegada do primeiro escalão, foi constituído o Dst FEB, que é, de imediato, engajado na frente de combate, no vale do rio SERCHIO.
O XV Grupo de Exércitos Aliados, composto pelo V Exército norte-americano e VIII inglês, vinha desde a Sicília, Sul da Itália, empurrando os alemães para o Norte. Estes, articulados em 3 Exércitos (o X, o XVI e o Exército da Ligúria) se instalam defensivamente na chamada “Linha Gótica”, uma frente de cerca de 280 Km, do Mar Tirreno ao Adriático, tendo como ponto forte as alturas que dominavam BOLONHA. O objetivo estratégico era o de liberar, antes da chegada do inverno, o norte italiano, fazendo-se junção com as tropas que operavam na França. Entretanto, a ofensiva é detida, porquanto são retirados do V Exército, sob comando do qual iria a FEB atuar, o VI Corpo de Exército (três Divisões de Infantaria) e o Corpo Expedicionário Francês (sete Divisões) para serem empregados na frente francesa, que era, assim, substancialmente reforçada, após o desembarque aliado na Normandia. Havia já três meses que americanos e ingleses acometiam sem sucesso BOLONHA – acidente capital da defensiva alemã. BOLONHA resistia e, em ferozes contra-ataques, as tropas alemãs infligiam as mais severas perdas, aos V Ex A e VIII inglês. Criou-se o mito da inexpuguabilidade da linha Gótica.
Nosso Destacamento chegou nessa fase crítica da guerra e se incorporou ao IV Corpo de Exército, sob o comando do Gen Willis Crittenberger, subordinado ao então desfalcado V Exército N.A., sob o comando do Gen Mark Clark.
Assim, como se pode concluir, é bem verdadeiro o que disse o Gen Mascarenhas de Moraes em seu livro “A FEB pelo seu Comandante”: “Para os que não sabem avaliar o esforço da FEB, pois não se situaram, como nós, na mais cruenta frente de batalha da Europa Ocidental, só posso dizer uma coisa: a FEB não teve um só dia de descanso, em sua campanha na Itália”.
- Na primeira fase de sua atuação (de 15 Set a 30 Out 44) no vale do rio SERCHIO, o Dst FEB (6º RI, 2º/1º ROAR, 9º BECmb e Tropas diversas), logo foi empregado. Sua missão era cerrar sobre os postos avançados da Linha Gótica, substituindo tropas norte-americanas.
Nossa primeira vitória se deu em CAMAIORE, a 18 Set. A 26 Set, atingíamos Monte Prano. Daí até 30 Out 44, conquistou o Dst FEB inúmeras vilas e cidades como Massarosa, Monte Acutto, Fabriche, Fornaci, Gallicano, Barga e San Quirico.
Foi um avanço de 40 Km onde foram efetuados 208 prisioneiros. Eram os primeiros feitos gloriosos.
- Passaria a FEB à segunda fase das operações no vale do rio RENO. Foi a mais terrível fase da campanha expedicionária. Cerrávamos sobre os contra-fortes dos bastiões de Belvedere, Monte Castelo e Castelnuovo. Não fosse a culminância de Monte Castelo conquistada, seria impossível às forças do IV Corpo Ex prosseguirem em direção à Bolonha, grande desafio do XV Grupo Exércitos. Era objetivo dos aliados liberar Bolonha, antes do cair das primeiras neves. Entretanto, tal objetivo só se concretizaria se fosse utilizada a Rv 64, barrada em 32 Km, pela linha de alturas, de posse dos alemães: Monte Della Torraccia – Belvedre, Mazzancana, M. Castello (ponto culminante), Torre di Nerone – Castelnuovo.
Assim, em 24 Nov, foi dada a missão de conquistar as elevações de Monte Belvedere – Monte Castello, à Task Force 45 do Exército americano, que recebeu um Batalhão do 6º RI, o Esqd Rec Mec e apoio da Art.
O inimigo, superiormente instalado, repeliu este ataque. Nova tentativa é feita no dia seguinte, 25 Nov, com êxito parcial pois apenas Monte Belvedere foi conquistado pelos N.A.
O terceiro ataque foi planejado para o dia 29 Nov – apenas quatro dias depois dos primeiros insucessos. Tal ataque a Monte Castello seria de inteira responsabilidade da 1ª DIE. Foi organizado um Grupamento composto de 3 batalhões brasileiros (I/1º RI, 3º/11º RI e 3º/6º RI), com apoio de 3 Grupos de Artilharia (2 brasileiros e um norte-americano) sob o comando do Gen Zenóbio da Costa.
Apesar do primoroso planejamento, fato inesperado ocorreu a 28 Nov, véspera do ataque: a 232ª DI alemã contra-ataca vigorosamente e desaloja a Task Force 45 de Belvedere.
Estaríamos com o flanco terrivelmente exposto. Entretanto é dado ordem para, assim mesmo, o ataque ser desencadeado. As condições climáticas e meteorológicas daquele 29 Nov não poderiam ser piores: chovia intensamente e o céu encoberto e a lama não permitiam o uso da Força Aérea e dos carros de combate, como combinado. Às sete da manhã iniciava-se a ofensiva. No final da tarde, após feroz contra-ataque inimigo, nossas tropas retrocederam às posições iniciais.
As condições adversas decorrentes do flanco exposto de Belvedere permaneciam. Apesar de ponderações do Cmdo da 1ª DIE, é lacônica a resposta escrita do Gen Crittenberger: “Cabe à 1ª DIE capturar e manter a crista do Monte Della Torracia – Monte Belvedere”.
Assim, a 12 Dez 44, investem ao assalto dois batalhões do 1º RI e dois do 11º RI apoiados por três Grupos de Artilharia.
Outra vez a chuva persistente, inviabilizando o emprego da aviação, o frio, o lamaçal escorregadio, impedindo o emprego de carros e, principalmente, o nutrido fogo inimigo partido do flanco exposto, fadam ao insucesso mais essa tentativa de nossas Forças.
Iniciam-se as nevadas e há estabilidade em toda frente. O plano de libertar Bolonha antes da caída da neve, esboroara-se.
Há frustração na 1ª DIE. Entretanto, o IV Corpo de Exército, finalmente se convence de que só com proteção de flanco e forte apoio de fogo, a 1ª DIE lograria êxito.
Setenta dias se passaram desde o malogro do quarto ataque a Monte Castello.
Outra vez é a 1ª DIE empregada. Desta feita à 10ª Div Montanha–NA é dada a missão preliminar de conquistar Belvedere e Mazzancana (que foi bombardeada pelos aviões do 1º G Av C da FAB) enquanto à 1ª DIE coube a conquista de M. Castelo – Torre Di Nerone – Castelnuovo.
Em 19 Fev, é desencadeada a ofensiva da 10ª Divisão de Montanha que, no dia seguinte, conquista Belvedere, Gorgolesco e Mazzancana e se prepara para o prosseguimento, em 21 Fev, sobre Mº Della Torracia, concomitantemente com o ataque brasileiro. Estava assim desimpedido, o terrível flanco W da FEB. A 1ª DIE investiria o até então inexpugnável Monte Castelo.
- 05:30 da manhã de 21 Fev 45: a 1ª DIE atacaria com o 1º RI desenvolvendo a ação principal, secundado pelo II/11º RI, com o apoio de toda a artilharia brasileira. Em reserva, o 11º RI (-), o Esqd Rec Mec e demais tropas de apoio. O 6º RI em defensiva face a Torre di Nerone e Castelnuovo, que só poderiam ser atacados após a conquista de Castello, em face da vulnerabilidade de flanco e da dominância daquela elevação.
Eram 17h 30 mim de 21 Fev... Na vanguarda, os 1º e 3º/1º RI têm a glória de ver a cor dos olhos do inimigo: é atingido o topo de Monte Castelo, após 12 horas de batalha e 3 meses de ingentes esforços que nos roubaram 263 preciosas vidas e nos fizeram mais de um milhar de feridos.
Era o momento mais emocionante da FEB. A vitória contra as tropas alemãs significava a glorificação do soldado brasileiro.
Em 24 Fev, o 2º/1º RI em impetuosa ofensiva iniciada no dia anterior, conquista La Serra, enquanto a 10ª Div Montanha conquista Della Torracia.
Mas a missão da FEB, nessa fase, não terminara. Restava o inimigo em Torre Di Nerone e Castelnuovo.
Após a consolidação de Castello, Della Torracia e La Serra, ao meio dia de 05 Mar 45, o 6º RI, secundado pelo 11º RI (-), lança-se ao ataque, conquistando, às 19 horas do mesmo dia, as elevações de Nerone e Castelnuovo.
Era a apoteose da FEB: estava quebrada a continuidade da Linha Gótica... A 10ª DM e a 1ª DB do IV Corpo de Exército puderam finalmente, utilizar a Rv 64 para desfechar o golpe final sobre Bolonha, já se deslocando por aquela Rv no dia seguinte à queda de Monte Castello.
- Analisando-se com imparcialidade a atuação brasileira em Monte Castello, pode-se concluir que se prevalecesse a idéia, sempre sustentada pelo Gen Mascarenhas, de que aquela elevação só poderia ser conquistada com a devida proteção de flanco, o terrível monte estaria nas mãos dos aliados, desde novembro de 1944 e, talvez, a vitória aliada na Europa tivesse se antecipado. São os fados da História...
Os ataques mal sucedidos da 1ª DIE, contra um adestrado inimigo, devem ser creditados mais, no dizer do Cmt FEB, a inflexíveis decisões do IV Corpo de Exército do que ao valor profissional do soldado brasileiro – que deu o máximo de si em todas as situações vividas.
A 3ª fase da atuação da FEB, após as conquistas de Castelo, La Serra, Torre di Nerone e Castelnuovo, seria o prosseguimento para o N, a fim de operar no corte do rio PANARO.
- Em 14 e 15 Abr 45, os V Ex A e VIII inglês convergiram, com suas melhores tropas sobre BOLONHA, objetivo estratégico do XV Grupo de Exércitos, o qual veio a cair, finalmente, em 21 Abr 45.
- Em 14 Abr 45, nossa Divisão recebe a missão de atacar as elevações ao Norte de CASTELLO dentre as quais MONTESE, Cota 888 e MONTELLO.
- Nas ações preliminares para a operação, morreu em combate, o campeão das patrulhas, o bravo Sgt MAX WOLLFF FILHO.
- Montese era um maciço de 1.200m de altitude.
Os alemães empenhavam-se em manter a posse daquelas alturas, que eram de vital importância para eles.
- Eram 10 horas e 15 mim de 14 Abre 45, quando as primeiras patrulhas brasileiras foram lançadas, no justo momento em que a 10ª Div Montanha iniciava o ataque. O inimigo reagiu com violência, bombardeando toda a região, mas os nossos pelotões avançaram, apesar de tudo.
- Apenas o Pelotão do Ten ARY RAUEN, não conseguiu atingir o seu objetivo em face do violento fogo que sofreu e que ocasionou inúmeras baixas, uma das quais, a do bravo Tenente.
- O ataque propriamente dito se iniciou às 13 horas e 30 mim, precedido de compacta preparação de Artilharia e contando com o apoio de 1 Cia CC e 1 Cia Mrt Químicos americanos.
O Cmt do 1º Batalhão do 11º RI impulsionou a 1ª Cia Fzo através dos Pel dos Ten IPORAN e MALHEIROS.
A certo momento não mais se teve notícias do Pel IPORAN e eis que ele próprio anuncia pelo rádio que suspendessem os tiros de Art pois o Pel se encontrava no interior daquele “ninho de águias”, a 1.200 metros de altitude, que era a cidadela de Montese. Foi a euforia geral, pois já se supunha que o Pel tivesse sido desbaratado pelo inimigo. Antes de escurecer, Montese estava em nossas mãos.
Fôra um dura jornada em que os brasileiros enfrentaram as minas traiçoeiras e os mais violentos bombardeios de toda a Campanha, eis que Montese recebera mais granadas de Art inimiga do que todo o restante da frente do 4º CEx. Capturamos 107 prisioneiros e o Gen Crittenberger, assim se pronunciou sobre a vitória brasileira: “Na jornada de ontem, só os brasileiros merecem as minhas irrestritas congratulações; com o brilho de seu feito e seu espírito ofensivo, a Divisão Brasileira está em condições de ensinar às outras, como se conquista uma cidade”.
- Eis aí, sras. e srs., em rápidas e imperfeitas pinceladas, a epopéia de Montese, que, repetimos, foi a mais sangrenta batalha travada por nossa Força Expedicionária.
Nessa 3ª fase não poderia haver perda de tempo e a DIE, célere, se deslocou para o N, em direção a Zocca, importante nó rodoviário. O inimigo retraía sempre e tentou defender as localidades de Marano e Vignola, inutilmente, pois a 23 Abr, elas estavam de posse da 1ª DIE. As populações dessas cidades confraternizaram-se com os nossos soldados.
- A quarta fase, com o inimigo já batido e em desabalada fuga, deu-se ao Sul do rio Pó. Foi a perseguição, desenvolvida na direção geral Vignola – Alexandria.
Em 27 Abr, nossa DIE chocou-se com resistências inimigas em Collechio – Fornovo – Respicio, e em duplo envolvimento, inicia o cerco às tropas alemãs. Combateu-se durante toda a noite de 27/28 Abr. Em 29 Abr, o Cmt do 6º RI confiou ao vigário de Neviano di Rossi a incumbência de levar um “ultimatum” de rendição incondicional aos alemães. Uma hora após chegou a resposta alemã que nada definia. Então, o Cmt do Regimento dicidiu atacar, com um Dst composto por tropas dos 3 RI da DIE, o que foi feito durante toda a tarde e primeira parte da noite de 29 Abr, com o apoio da Artilharia Divisionária. Às 22 horas, bandeira branca em punho, apereceu o Chefe do EM/148 DI alemã e uma escolta. Era a rendição. Amanhecia o dia 30 Abr, quando surgiu o grosso da Divisão e remanescentes das 90ª Divisão Panzer Granadier e Bersaglieri Itália, ao comando do Gen Otto Fretter Pico, acompanhado de 31 oficiais de seu Estado-Maior. O Cmt, escoltado pelo Gen Falconière da Cunha, foi encaminhado ao QG do V Exército Americano.
- A história, naquele momento, registrava fato ímpar: a rendição, em combate, de “super-homens” nazistas à única tropa sulamericana presente no TG europeu. Aprisionamos 14.779 homens, 4.000 animais, 2.500 viaturas, além de grande quantidade de armamento e equipamento.
Mas a FEB prosseguiu em seu avanço. A perseguição e limpeza do vale do rio Pó foram aceleradas. A 30 Abr, foi ocupada a região da Alexandria e feita junção com a 92ª Divisão do Exército NA. A 1º Maio, após ultrapassar a cidade de TURIM, outra junção é realizada com tropas francesas em Susa.
Estava praticamente finda e bem cumprida a missão. Daí para frente, tivemos os trabalhos de ocupação, até 03 Jun 45, quando a tropa se deslocou para o S Itália, onde aguardaria seu regresso ao Brasil.
Encerrava-se, com glória, uma das mais brilhantes páginas de nossa história militar. Completava-se o memorável périplo descrito por brasileiros em terras do Velho Continente... Perdêramos em combate 451 militares; 1.577 homens foram feridos, 1.145 acidentados, 58 extraviados e 35 feitos prisioneiros, em 239 dias de empenho diuturno.
Muito já foi dito sobre o que significou a FEB em termos de renovação de costumes e de desenvolvimento, em todos os campos do Poder Nacional.
De seus quadros saíram um Presidente (Castello Branco), um Vice-Presidente (Adalberto Pereira dos Santos), um Presidente do Senado (Paulo Torres), quatro governadores (Cordeiro de Farias, Paulo Torres, Emílio Ribas e Luiz Mendes da Silva), treze Ministros de Estado (Zenóbio da Costa, Cordeiro de Farias, Amaury Kruel, Segadas Viana, Nelson de Melo Moraes Ancora, Ademar de Queiroz, Lyra Tavares, Albuquerque Lima, Dale Coutinho, Hugo Abreu, Belfort Bethlehem e Celso Furtado) além de outros destacados políticos, militares, homens públicos, etc.
D) Sras. e srs, concluamos:
Antes das batalhas diziam os legionários romanos: “Ad Sumus, Sursum Corda”! Aqui estamos, corações ao alto! Sim, corações ao alto pois a hora é de alegria pela comemoração do 60º aniversário da participação da FEB, na 2ª GM, mas também é hora de tristeza, hora de lembranças, de memória, de veneração a bravos, de prece.
Lembremos-nos de heróis: do Asp Francisco Mega, gritando, moribundo, a seu pelotão: “minha vida nada vale – prossigam na ação”!; do Sgt Max Wollf – o campeão das patrulhas, morrendo ao dar o exemplo, à frente de seu grupo de combate, ao partir num lanço, desassombradamente em direção ao inimigo; dos três soldados: Geraldo Rodrigues de Souza, Arlindo Lúcio da Silva e Geraldo Baeta da Cruz, do 11º RI, em Montese, que desgarrados de uma patrulha, foram mortos e enterrados pelo inimigo, que fincou uma cruz com os seguintes dizeres em alemão: “Três Heróis Brasileiros”.
Muitos não retornaram. Partiram jovens e idealistas para a luta do Bem contra o Mal. Quis Deus, entretanto, que ficassem nos campos escarpados da Itália, no cumprimento do dever, fardados, coturnos calçados, deixando como testemunhos de acendrado patriotismo, seus corpos inermes.
Em Pistóia, centenas de cruzes brancas, durante longo tempo, assinalaram, em solo europeu, a presença de heróis brasileiros. Porém, os restos mortais desses heróis retornaram à Pátria, em 1960, e estão sepultados, com toda veneração e carinho, em terras brasileiras, “ad perpetuam rei memoriam”, no Monumento aos Mortos da II Guerra Mundial, no Rio de Janeiro.
A câmara fúnebre desse monumento abriga 468 jazigos de mármore preto nacional com tampas de mármore branco de Carraca, com a gravação do nome, da graduação ou posto, unidade, data de nascimento e morte daqueles bravos. Quinze jazigos não possuem dados de identificação, pois se referem a desaparecidos e a mortos não reconhedidos. Escrito lá está: “Aqui jaz um herói da FEB – Deus sabe o nome”.
E aos que retornaram, nosso preito de gratidão, ao recordarmos as palavras do Mar Mascaranhas de Moraes: “Regressamos com feridas ainda sangrando dos últimos encontros, mas nunca, pela nossa atuação, prestígio e nome do Brasil periclitaram ou foram comprometidos”.
E, minhas sras, e srs.: cultuar o passado na glorificação dos que mais lidaram por encher os anais da pátria de cintilações astrais, não é apenas ação louvável: é dever precípuo de todo povo que aspira a se fazer merecedor da reverência e da admiração do mundo.
Quando um povo entra a esquecer, nos prazeres fugacíssimos da vida, dos vultos mais salientes, das figuras mais relevantes, dos varões mais respeitáveis de seu passado, dos que mais se sublimaram pelo saber, pela santidade, pelo heroísmo ou pelo martírio, ninguém deve maravilhar-se de vê-lo, um dia, desagregado, desvirilizado, desacreditado, e, ainda por maior desdita, escravizado pelos outros povos. É a lição triste da História, a mestra da vida, a mestra das mestras...
Assim, máxime nos dias hodiernos, na convicção de possuirmos um Exército invicto, orgulhemo-nos de nossa Força Expedicionária, que soube aos olhos do mundo, ser a lídima herdeira das gloriosas tradições vindas dos Guararapes e a nós legadas por Caxias e tantos outros maiores de nossa História Militar.
Muito obrigado!
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MANOEL SORIANO NETO - Cel Inf QEMA
Chefe do C Doc Ex
1 de ago. de 2008
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