22 de ago. de 2008

LMF - FEB - A II GUERRA

A GUERRA

A paz imposta pelo Tratado de Versalhes (1919) não podia ser duradoura: levava em si o estopim de uma nova guerra e era de se prever que esta, por este e outros fatores, mais ou cedo ou mais tarde, seria deflagrada.
O não cumprimento dos princípios de igualdade naquele e nos tratados subseqüentes (ver Primeira Guerra Mundial) na organização das novas nações; o lamentável erro de ter sido feito da Liga das Nações um organismo parcial, a serviço de determinadas potências; o natural rancor por parte das nações vencidas, às quais foram impostas punições absurdas (como a mutilação da Turquia e da Hungria, a extinção forçada da Áustria-Hungria etc.); o descontentamento da Itália que, embora fazendo parte do grupo vencedor, não obteve a fatia do bolo que desejava; a criação artificiosa de certos Estados, como a Checoslováquia e a engrandecida Sérvia (transformada em Iugoslávia), feita contra toda lei geográfica e étnica; o estabelecimento de anomalias geopolíticas tão caprichosas quanto o Corredor de Dantzig (polonês); a subida ao poder, em alguns países, de governos de caráter belicoso; ; as profundas diferenças existentes entre os grupos políticos de um mesmo país, que dividiam a maior parte dos europeus.
Todos esses fatores fizeram dos vinte anos subseqüentes ao Tratado de Versalhes anos de contínuo sobressalto, de inquieta e angustiante expectativa. Até que, ao final de 1939, fatalmente teve início o novo choque, determinado pelo fatídico corredor de Dantzig (polonês).
Durante esse tempo (os vinte anos), a Itália controlou a situação semi-anárquica em que encontrava-se nos anos de 1919-20 e foi levantada por Benito Mussolini ; ao passo que a Alemanha, nesse mesmo ínterim, após alguns anos de desorientação e titubeios, mirou-se na Itália e, fazendo de Hitler o seu caudilho, reergueu-se. Hitler foi refazendo a Alemanha a ponto de vê-la protagonizar acontecimentos tão significativos quanto o rearmamento da Renânia, a anexação da Áustria ao seu território (Anschluss), a incorporação da região dos sudetos, a desintegração da Checoslováquia (com a independência da Eslováquia e posterior criação do Protetorado da Boêmia e Morávia, por parte da Alemanha).
A anexação da Albânia e a conquista da Etiópia por parte da Itália foi o necessário para a conseguinte aproximação das duas nações, que formaram o eixo Roma-Berlim. Ao mesmo tempo que isto ia ocorrendo, França e Inglaterra adotaram a mesma atitude, aliando-se, o que acabou bipolarizando antagonicamente o contexto: de um lado as nações chamadas totalitárias (Alemanha, Itália e países de regime corporativo análogo) e, do outro, as chamadas democracias (Inglaterra, França, E.U.A. e demais países de regime liberal).
O primeiro grupo foi reforçado pela presença do Japão que, em novembro de 1936, firmara com os alemães o Pacto Anticomunista (ao qual somou-se a Itália no ano seguinte), o precursor do Pacto Tripartidarista (27 de setembro de 1940), que fazia das três potências um triângulo forte, capaz de pôr um fim prematuro à paz mundial. Assim encontrava-se o mundo em 1939, semeando um campo abarrotado de minas prestes a explodir. As nações, receosas e prevenidas, aguardavam, com as armas preparadas, o iminente conflito. A tensão era insuportável e a chispa que a dissiparia veio logo.
No dia 1 de setembro proclamou-se a anexação de Dantzig ao Reich alemão, contra os desígnios do grupo antagônico. No mesmo dia, a Alemanha, alegando violação de fronteiras, atacou militarmente a Polônia . Em decorrência de tais fatos, Inglaterra de França declaram, finalmente, guerra à Alemanha. Esta, melhor preparada para a guerra moderna, ocupou, em menos de um ano, Polônia, Dinamarca, Noruega, Luxemburgo, Bélgica, Holanda e grande parte da França que, derrotada, viu-se obrigada a assinar um armistício (22 de junho de 1940).
Tais episódios foram especialmente preocupantes para a Inglaterra, que viu-se desalojada de suas bases no continente, sendo forçosamente recluída a suas ilhas. Ao contrário, a Alemanha vinha multiplicando suas bases de ação, contando agora também com a inclusão da Itália no conflito (10 de junho de 1940). Privada, pois, de aliados continentais, a Inglaterra ofereceu uma resistência tenacíssima aos bombardeios que continuamente sofreram suas cidades (julho-novembro de 1940). Igualmente, sua frota marítima desafiou o perigo submarino e, conseguiu, após tantos feitos heróicos o auxílio dos E.U.A.
Na primavera de 1941, em face de uma intensa pressão diplomática, a Alemanha decidiu auxiliar seus aliados italianos em sua apurada posição balcânica, ocupando a Grécia e a Iugoslávia (tal ação debilitou seriamente as posições bretãs no Mediterrâneo oriental). Em 22 de junho do mesmo ano, a Alemanha atacou a U.R.S.S. em toda a sua fronteira, denominando a ação de "cruzada européia contra o comunismo". Nesta ação, estiveram do lado alemão a Finlândia, a Romênia, a Hungria, a Eslováquia e, naturalmente, a Itália, dentre outras nações que, por sua ideologia ou por seus pleitos fronteiriços, tinham alguma conta pendente com os soviéticos.
Esta campanha, iniciado sob o signo de uma inevitável vitória alemã, significou a salvação da Inglaterra e foi o princípio do ocaso do Reich, já que a Rússia contava com ilimitados recursos humanos, agrícolas e industriais (além de receber a nada depreciável ajuda anglo-norte-americana).
Após terem chegado às portas de Leningrado e de Moscou, os exércitos alemães viram-se obrigados a retroceder, devido ao inverno de 1941-1942. No verão seguinte, porém, voltaram à carga, romperam a frente meridional, passaram o Don, chegaram ao Cáucaso e ao Volga e aí, em Stalingrado , sofreram uma das derrotas mais importantes e decisivas registradas pela História. Os russos passaram de sitiados a sitiadores e destruíram o IV exército alemão , cujos efetivos chegavam a 350.000 homens (agosto de 1942 - fevereiro de 1943).
A partir deste momento, a Rússia assumiu a iniciativa na frente do Leste e, não só recuperou, em sucessivas ofensivas, o terreno dantes perdido, como também conquistou, tirando do Eixo todos os postos-satélite que este mantinha na Europa Oriental. No dia 12 de janeiro de 1945, alinhados os exércitos russos ao longo da fronteira alemã, foi empreendida uma última investida, de características extremamente violentas, que culminou com a tomada de Berlim (defendida pessoalmente por Hitler ) e com o conseqüente término da guerra. Contudo, nesse meio tempo, não permaneceram ociosos os anglo-saxões [os E.U.A., atacados pelo Japão em 7 de dezembro de 1941, declararam guerra à dita nação. Em decorrência disso (e em virtude do Tratado Tripartidarista entre Alemanha, Itália e Japão), Hitler e Mussolini declararam, por sua vez, guerra aos americanos, que passaram, desta forma, a reforçar a causa anglo-russa.
A partir daí definiram-se bem os grupos em conflito: de um lado Alemanha, Itália e Japão, reforçados por outros Estados totalitários da Europa e da Ásia; e, do outro, E.U.A., Inglaterra e Rússia, com um elevado número de países aliados (Nações Unidas), que, ao término da guerra, chegava a 45. Deve-se notar que, até 8 de agosto de 1945, Japão e Rússia mantiveram relações amistosas, quando a segunda declarou guerra ao primeiro].
Quando chegou o momento propício (a seus olhos), E.U.A. e Inglaterra passaram à ofensiva e, aproveitando-se de sua indiscutível supremacia marítima, efetuaram uma série de desembarques em outros tantos lugares ocupados pelo Eixo, o que fez com que este, impossibilitado de continuar lutando na frente russa e de sufocar os levantes populares cada vez mais freqüentes nos países que tinha invadido, fosse desintegrando-se política e fisicamente.
O desembarque na África do Norte (8 de novembro de 1942), conjugado às ações do VIII exército britânico, que avançou ininterruptamente de El Alamein a Túnis, teve como conseqüência a expulsão de italianos e alemães do continente africano; o na Sicília (10 de julho de 1943) acabou forçando a queda do ditador Mussolini e da conseqüente dissolução do regime fascista; o na própria península itálica (3 de setembro de 1943), foi importantíssimo tanto estratégica quanto politicamente; e, por último, os na França [Normandia (6 de junho de 1944) e Cote d'Azur (17 de agosto de 1944)], que libertaram aquele país e garantiram aos Aliados uma excelente base de operações contra os alemães.
Todos esses desembarques foram decisivos para que os Aliados pudessem trilhar o caminho da vitória na Europa, que chegou no dia 8 de maio de 1945, quando a Alemanha viu-se invadida a partir dos quatro pontos cardeais e quando se deram as mãos, no coração do país vencido, os exércitos anglo-saxões, que vinham do oeste, e os russos, que vinham do leste.
No extremo Oriente a guerra teve um desenrolar paralelo à luta na Europa. A princípio, foi o Japão quem tomou a iniciativa militar. Viu-se, porém, no fim, obrigado a render-se e capitular. A guerra entre os E.U.A./Inglaterra contra o Japão começou em 7 de dezembro de 1941, quando os japoneses atacaram, de surpresa, a base naval americana de Pearl Habour, no Hawaii. Este conflito (que pode ser encarado como uma extensão da guerra Sino-Japonesa) foi essencialmente diferente daquele travado na Europa, pois, ao invés de caracterizar-se pela luta terrestre, foi particularmente travado nos ares.
Em seus primeiros meses (dezembro de 1941 a junho de 1941), o Japão avançou rapidamente, sem dificuldades para vencer as débeis guarnições que defendiam Malásia, Indonésia, Filipinas, Guam, Papua Nova-Guiné etc., ocupando, além dos territórios citados, parte da Birmânia, das Ilhas Salomão e das Aleutas. Visava, ainda, a Índia, a Austrália e a costa oeste norte-americana.
Porém, na primavera de 1942, as batalhas nas águas de Midway e no Mar de Corais, foram suficientes para frear o avanço nipônico. Iniciada a recuperação norte-americana nas águas de Guadalcanal (agosto de 1942), as tropas aliadas foram, paulatinamente, estreitando o cerco ao Japão que, por sua vez, era incapaz de deter o avanço inimigo às suas metrópoles (bombardeadas dia e noite durante o verão de 45), vendo-se obrigado a render-se. No dia 2 de setembro era documentada a rendição, a bordo do "Missouri", ancorado na Baía de Tóquio.
Desta campanha, deve-se mencionar: as batalhas das Filipinas e de Formosa (1944), que praticamente acabaram com a esquadra japonesa; o esforço norte-americano, visto que lutaram sozinhos, sendo ajudados, apenas, pelos ingleses na Birmânia e pelos chineses em sua pátria natal; a tardia intervenção russa (8 de agosto de 1945, ou seja, seis dias antes do término da guerra) que lhe rendeu grandes benefícios; e, sobretudo, a utilização, pela primeira vez, da bomba atômica , decisiva na determinação japonesa de render-se. Naturalmente, em virtude do progresso ocorrido no período entre-guerras, a Segunda Guerra Mundial superou a Primeira em dureza. Calcula-se que as baixas girem em torno de 53.000.000, dos quais 22.000.000 foram mortos diretamente pelo conflito. Nesta guerra, não diferenciou-se muito o perigo a que estavam expostos os soldados e a população, pois que ambos eram igualmente vulneráveis aos ataques aéreos (bombardeios).
Dentre os inventos mais notáveis da guerra, destacam-se, tanto por sua importância científica quanto por sua eficácia na luta: a bomba atômica e a radiolocalização (rastreamento). Outros, cuja aparição remonta à Primeira Guerra, como os aviões, os tanques e os porta-aviões, atingiram tal nível de perfeição na Segunda, que mudaram completamente os meios de luta: enquanto a Primeira foi uma guerra "de posições", travada em trincheiras ; a Segunda foi essencialmente uma guerra "de movimentos", adquiridos pelo incremento do aparato militar. Não obstante, por medo, sem dúvida, da represália adversária, nenhum dos envolvidos atreveu-se a usar os gases ou as armas bacteriológicas.
Ao término da guerra, restava ao mundo a iniciativa, através de esforços globais, tornar-se um local mais seguro e justo à sobrevivência dos seus. Mas, os fatos subseqüentes à contenda não tardaram a provar quão ilusória era essa nobre aspiração, pois, tão pronto iniciaram-se as conferências e conversações destinadas a devolver a paz ao mundo, iniciaram-se também as discrepâncias que emperravam esse processo. Motivadas eram elas, como sempre, pelos inúmeros desacordos entre os vencedores, que foram tornando-se cada vez mais ostensivos e dificultosos àqueles encarregados de elaborar os tratados de paz. Chegou-se ao absurdo de, seis anos após o fim do conflito, não só de haver-se logrado a tentativa de determinar quais os territórios a serem discutidos, mas também de, apesar de todos os ganhadores afirmarem não desejar uma nova guerra, tal possibilidade ser considerada por muitos e assegurada por outros, absolutamente convencidos da iminência e inevitabilidade da Terceira Guerra Mundial.

O BRASIL NA GUERRA
Em síntese: Em represália ao rompimento de relações diplomáticas do Brasil com os países do Eixo, a partir de janeiro de 1942 vários navios mercantes brasileiros foram torpedeados por submarinos alemães. A esses incidentes seguiu-se uma forte mobilização popular em favor da entrada do país na Segunda Guerra Mundial para lutar ao lado dos Aliados contra o nazi-fascismo. O governo brasileiro finalmente declarou guerra à Alemanha e à Itália em agosto de 1942, mas só após ajustes difíceis com os Estados Unidos e a Grã-Bretanha foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que levou o Brasil ao teatro de operações na Itália. A contradição entre lutar a favor da liberal-democracia ao lado dos Aliados na Europa e manter uma ditadura no país em muito contribuiria para a queda de Vargas e o fim do Estado Novo em 29 de outubro de 1945.
O rompimento de relações diplomáticas do Brasil com os países do Eixo, anunciado ao final da Reunião de Chanceleres do Rio de Janeiro, em 28 de janeiro de 1942, tornou os navios brasileiros alvo de ataques dos submarinos alemães. Nos sete meses seguintes cerca de 19 navios mercantes brasileiros foram torpedeados na costa do país costa do país, causando centenas de perdas humanas. Nesse momento foi de fundamental importância a ação de patrulhamento do Atlântico Sul realizada pela Força Aérea Brasileira (FAB), que mais tarde também iría atuar no front italiano.
A indignação provocada pelos torpedeamentos fortaleceu a campanha em favor da entrada do Brasil na guerra, da qual participavam diversas entidades, entre elas a União Nacional dos Estudantes(UNE). Em resposta aos apelos da sociedade, finalmente o Brasil decretou o estado de beligerância (22 de agosto) e a seguir o estado de guerra (31 de agosto de 1942) contra a Alemanha e a Itália. No mês seguinte, o governo criou a Coordenação da Mobilização Econômica, com o propósito de coordenar o funcionamento da economia no contexto de emergência gerado pelo conflito mundial.
Iniciaram-se então as conversações sobre o envio de um contingente brasileiro à frente de combate. A formação de uma força expedicionária correspondia a um duplo projeto político de Vargas: de um lado, fortalecer as Forças Armadas brasileiras internamente e aos olhos dos vizinhos do Cone Sul, em especial a Argentina, e com isso garantir a continuação do apoio militar ao regime do Estado Novo; de outro lado, assegurar uma posição de significativa importância para o Brasil no cenário internacional, na qualidade de aliado especial dos Estados Unidos. Entretanto, as vitórias aliadas no norte da África, em novembro de 1942, reduziram consideravelmente a importância estratégica do Nordeste do Brasil e, por extensão, as possibilidades de reequipamento das Forças Armadas brasileiras. Preocupado, Vargas insistiu com o presidente norte-americano Franklin Roosevelt, quando este visitou Natal em janeiro de 1943, no fornecimento do material bélico prometido pelos Estados Unidos e no interesse brasileiro em tomar parte ativa nos combates. Com a concordância de Washington, a Força Expedicionária Brasileira(FEB) foi finalmente estruturada em agosto de 1943. Para seu comando foi convidado o general Mascarenhas de Morais.
Da criação da FEB até o embarque do 1° Escalão para a Itália transcorreu quase um ano. Nesse período, dedicado à preparação e treinamento das tropas, inúmeros foram os desencontros entre Brasil e Estados Unidos, desde os relativos à liberação do equipamento militar necessário para a atuação das forças brasileiras, até os decorrentes da ausência de uma definição quanto à área de atuação da FEB. Finalmente liberados os armamentos norte-americanos de que o Brasil necessitava no início de 1944, e superada a resistência britânica à presença de uma força brasileira no Mediterrâneo, o primeiro contingente de tropas brasileiras embarcou em 30 de junho de 1944 rumo à Itália. Ao longo dos oito meses seguintes, outros quatro escalões seguiram para o teatro de operações. Também a FAB se fez representar com um grupo de aviação de caça e uma esquadrilha de ligação e observação.
O envio da FEB e da FAB ao teatro de operações veio coroar um processo que se iniciara quase quatro anos antes, mas constituiu também o ponto de partida de uma nova etapa, qual seja, a da busca, por parte do governo brasileiro, de participação nos arranjos do pós-guerra que iriam definir uma nova ordem mundial.
Além de ter viabilizado o reequipamento das Forças Armadas, a participação militar direta do Brasil na guerra, num primeiro momento, fortaleceu o regime e ampliou o poder e o prestígio de setores civis e militares da classe governante. No entanto, logo se evidenciou uma contradição, na medida em que o Brasil apoiava as forças aliadas na sua luta contra os regimes autoritários nazi-fascistas e, ao mesmo tempo, mantinha internamente um regime ditatorial que restringia a participação popular. Não demorou muito para que o Estado Novo sofresse os efeitos desse contra-senso. A despeito das medidas liberalizantes adotadas pelo governo, procurando atender às demandas das oposições, um golpe desfechado em 29 de outubro 1945 sob a liderança do alto comando do Exército provocou a queda de Vargas e o fim do Estado Novo.
No plano da política externa, a participação na guerra não chegou a favorecer o objetivo do Brasil de se tornar um ator influente na construção da nova ordem internacional. Na verdade, enquanto o Brasil ainda negociava sua participação militar na luta contra o Eixo, os Aliados já estavam se articulando para a construção do pós-guerra nas Conferências Aliadas. De toda forma, o Brasil participou da Conferência de Paz de Paris em 1946 e obteve um assento não-permanente no Conselho de Segurança da recém-criada Organização das Nações Unidas.

O BRASIL NO CENÁRIO INTERNACIONAL
A participação no esforço de guerra aliado e, principalmente, o envio da FEB ao no front italiano, em 1944, levaram o governo brasileiro a supor que o país teria um papel importante a desempenhar nas negociações de paz do pós-guerra, na qualidade de "potência associada" e "aliado especial" dos Estados Unidos. A reivindicação de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU transformou-se assim em meta prioritária da diplomacia brasileira, embora as negociações relativas ao formato da nova organização tenham ficado desde o início restritas às grandes potências participantes das conferências aliadas.
Se é verdade que, durante conferência de no Dumbarton Oaks (1944), o presidente Roosevelt chegou a defender a ampliação do número de membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU de forma a acomodar um país latino-americano, possivelmente o Brasil, também é verdade que a proposta foi logo posta de lado diante da oposição da Grã-Bretanha e da União Soviética. Isso não impediu, contudo, que o governo brasileiro continuasse a alimentar esperanças, realizando sucessivas consultas ao governo norte-americano. As respostas deste último eram vagas e ambíguas, o que mantinha vivo nas autoridades brasileiras um sentimento de prestígio, ainda bastante útil na manutenção da aliança Brasil-Estados Unidos. A visita ao Brasil, em fevereiro de 1945, do secretário de Estado norte-americano Stettinius constituiu o exemplo mais significativo da forma como Washington alimentava as pretensões diplomáticas brasileiras a fim de obter concessões de natureza econômica e militar. Na ocasião, Stettinius garantiu a renovação de acordos para fornecimento de material atômico brasileiro aos Estados Unidos, naquele momento crucial para a fabricação da bomba atômica.
Compreendendo finalmente que o assento permanente no Conselho de Segurança estava fora de questão, o Brasil concentrou-se, a partir da criação da ONU na Conferência de São Francisco, em junho de 1945, na candidatura a um assento não-permanente - para o qual foi eleito em no 1947.
O que se revelou a partir dos anos 1944-45 foi que a capacidade do Brasil de transformar a "aliança especial" com os Estados Unidos em uma fonte de concessões econômicas e militares e de prestígio externo chegara ao seu ponto limite. Os Estados Unidos haviam se transformado, então, numa potência hegemônica mundial cujas preocupações estratégicas se voltavam para a Ásia e a Europa, relegando a América Latina a um plano secundário.

O BRASIL NO TEATRO DE OPERAÇÕES
Exatamente sete meses e 19 dias foi quanto durou a campanha da FEB na Itália. De 16 de setembro de 1944, quando um batalhão do 6° Regimento de Infantaria iniciou a marcha que redundaria nas conquistas de Camaiore e Monte Prano, até 2 de maio de 1945, dia em que a ordem de cessar fogo foi expedida pelo comando do 4° Corpo do V Exército americano, ao qual a FEB era subordinada, os brasileiros se empenharam em várias batalhas.
A FEB lutou na Itália em duas frentes. A primeira foi na região do rio Serchio durante durante o outono de 1944, e a segunda no vale do rio Reno, em plena cordilheira apenina. Aí, por mais de dois meses os soldados brasileiros enfrentaram um rigoroso inverno e, sob o fogo constante do inimigo, alcançaram seus maiores feitos: as conquistas de Monte Castelo, em 22 de fevereiro de 1945, e de Montese, em 14 de abril, e o aprisionamento da 148ª Divisão Alemã, de remanescentes de uma Divisão de Infantaria Italiana e de forças blindadas do Afrika Korps, em 28 de abril.
A missão mais importante que coube à FEB foi, sem dúvida, a tomada de Monte Castelo. A elevação, dominada pelos alemães, era uma posição estratégica que impedia o 4° Corpo de Exército de prosseguir a marcha até Bolonha, objetivo maior do comando das Forças Aliadas na Itália. No dia 24 de novembro de 1944 foi feita a primeira ofensiva. Depois de se apoderarem do monte Belvedere, ao lado de Castelo, os brasileiros sofreram uma violenta contra-ofensiva alemã que os obrigou a abandonar as posições já conquistadas. No dia 29 os Aliados iniciaram a segunda ofensiva a Monte Castelo, igualmente barrada pelos regimentos de infantaria alemães. No dia 12 de dezembro iniciou-se o também frustrado terceiro assalto dos expedicionários brasileiros a Monte Castelo, que não durou mais de cinco horas. Mesmo assim, as vanguardas da FEB conseguiram chegar além da metade do caminho programado.
O dia 19 de fevereiro de 1945 foi a data estabelecida pelo comando do V Exército para o início de nova ofensiva, que ficaria conhecida como Operação Encore. Nela seriam empregadas todas as forças do 4° Corpo de Exército, visando a expulsar o inimigo do vale do rio Reno e persegui-lo até o vale do rio Panaro. A missão dos brasileiros seria desalojar os alemães de Castelnuovo de Vergato, do Monte Soprassasso e, mais uma vez, de Monte Castelo. A grande vitória finalmente ocorreu em 21 de fevereiro.
Do início de março a meados de abril de 1945 houve um período de menor número de operações. O comando aliado aliado organizava, então, o plano final da campanha da Itália, a chamada Ofensiva da Primavera, destinada a levar com rapidez à derrota definitiva teuto-italiana. Foi estabelecido que caberia à FEB seguir na direção de Vignola, o que veio a acarretar os vitoriosos ataques a Montese e Zocca. A partir dessas vitórias iniciou-se a perseguição aos alemães que batiam em retirada. Seguiram-se o cerco a Colecchio, Fornovo di Taro, a rendição de divisões inimigas e a corrida para o vale do Pó. Prosseguindo em direção a Turim, os brasileiros ocuparam a cidade de Alessandria, em 30 de abril.
De 8 de maio - data da rendição da Alemanha e portanto do fim da guerra na Europa - até 3 de junho a FEB foi empregada na ocupação militar do território conquistado e começou a preparar seu retorno ao Brasil. Quando o 1° Escalão regressou ao Brasil, em 18 de julho de 1945, 454 mortos, ficaram enterrados no no cemitério brasileiro localizado na cidade de Pistóia, perto de Florença.
Fonte: Fundação Getúlio Vargas

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